sábado, 6 de fevereiro de 2010

O Líder in partibus infidelium

Por André Augusto

Antes que façam as licitações bilionárias propriamente ditas às empresas transnacionais encarregadas da reconstrução do Haiti, acorde com as resoluções principais da Conferência de Montreal, a mais recente licitação de frases das autoridades da “comunidade internacional”, (que aparentemente se concentram em sua totalidade em Washington), é a de que os “haitianos não confiam em seu presidente depois de observar o extraordinário esforço internacional para a solução da catástrofe, enviando navios, tanques de guerra, dinheiro e soldados”. Continua ainda com o inescapável corolário que já vinhamos anunciando há semanas, mas que a modéstia dos bucaneiros faz aparecer por último: “Não surpreendentemente, eles se viram para o verdadeiro governo de ajuda no país”.

O monge insuspeito que disse o que vai acima é Robert Pastor, conselheiro para assuntos do Haiti do governo Clinton. Obviamente, essa declaração oportunista só poderia mostrar seu rosto tímido após constatar o campo limpo para isso, em vista do rechaço público por parte do povo haitiano tanto da inépcia de seu “ex-presidente” e ventríloquo nacional René Préval, quanto da presença das tropas da MINUSTAH no país, com um realce especial para os serviços “heróicos” prestados pelos brasileiros.

Em 1994, após a instalação da ditadura militar no Haiti em 1991 sob o uniforme de Raúl Cedrás – colocado com as próprias mãos de George H. W. Bush, o genitor do grande assaltante do Oriente Médio – quando a insatisfação popular ameaçava removê-lo por seus próprios métodos combativos, Bill Clinton reinstalou Jean Bertrand Aristide, derrubado em 1991 em favor da ditadura, com a ajuda de uma nova ingerência dos fuzileiros navais norte-americanos, (de modo semelhante ao processo atual de novo inchamento da bolha de fuzileiros navais). O sr. Bill Clinton assim o fizera apenas depois de que Aristide abandonara qualquer pretensão “populista” e aceitara implementar um plano neoliberal proposto pelo Fundo Monetário Internacional, o FMI. Clinton serviu bem a Câmara dos Deputados e a Bolsa de Wall Street com mais um serviçal do imperialismo.

Ante a situação cataclísmica vivida no Haiti, o povo caribenho tem o dissabor de ver a liderança da pirataria internacional – agora tomando a forma vindoura da reconstrução do Haiti, sendo que de modo algum se localiza uma base sólida de saúde popular após a “comunidade internacional” se dissolver em aparatos militares dentro do país – entregue a ninguém menos que... Bill Clinton, um dos responsáveis diretos pela submissão dos trabalhadores e do povo pobre haitiano e de sua centenária condenação à miséria. Quem entregou esse fardo ao antigo zelador da Casa Branca? O seu zelador atual: Barack Obama.

É necessário impulsionar a combinação mais única das forças indispensáveis para o reerguimento genuíno do povo haitiano. Tudo se levanta de acordo com o estado de suas juntas e articulações. Enquanto os esforços para manter os haitianos ajoelhados serão administrados a jorros pelos bilhões de dólares em licitações para as multinacionais, que seguirão demonstrando ao povo que este não se pode ajudar a si mesmo sem o bolso cheio, cumpre lubrificar as juntas da consciência de classe das trabalhadoras e dos trabalhadores e deixar flamejante a luta desse heróico país caribenho, tão devassado por todos os poros abertos de modo sangrento durante sua história.

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