quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Esclarecimentos sobre o caráter e a função do pedágio-ato


Com esse texto, nós, membros das entidades estudantis (DAF, CA’s, Atlética e Comissão de Moradia) e demais estudantes da Comissão de Recepção dos Calouros de 2010, pretendemos explicar aos demais estudantes do IBILCE algumas “modificações” que irão acontecer este ano na Semana de Recepção, principalmente relacionado ao Pedágio.

Em primeiro, explicaremos que o pedágio, não será, dessa vez, apenas uma forma de se arrecadar dinheiro para executarmos a semana e a Chopada. Mas por que isso?

Grande parte se deve ao fato da maioria de nós não concordarmos com a finalidade dada ao dinheiro arrecadado da população, que geralmente acaba virando cerveja. Com a intenção de mudar essa mentalidade, organizamos neste ano de 2010, o primeiro pedágio-ato.

O pedágio-ato desse ano será uma forma política de demonstrar nossa solidariedade com a população do Haiti e nossa indignação pelo que vem ocorrendo no país mais pobre das Américas, principalmente após a sua ocupação militar pelas forças da ONU em 2004 e mais ainda agora, depois do forte terremoto e da rápida resposta armada dada pelos países como França, Estados Unidos e Brasil em oposição a uma ajuda humanitária de fato.

O Haiti, por ter sido o primeiro país a se tornar independente na América, e ainda por cima com uma revolução de parte escravista, vem sofrendo, no decorrer de toda sua história, o abuso de países mais ricos que só veem em sua população mão-de-obra barata e que, por meio de ocupações e ditaduras militares apoiadas por esses países desde 1925, o tornaram um território enormemente pobre, que serve somente para ser explorado pelos interesses das grandes multinacionais.

Para que isso ocorresse de forma facilitada, em 29 de fevereiro de 2004, soldados americanos se aproveitaram do início de uma revolta popular para retirar o então presidente haitiano Jean-Bertrand Aristide (que não servia mais aos interesses norte-americanos) , contra a sua vontade, do país e consequentemente do poder.

Nisso, a população se revoltou com a ingerência imperialista em seu país e exigiu o retorno de Aristide ao Haiti. O presidente de fato, colocado no poder por meio do golpe norte-americano, temendo o pior, pediu imediatamente ajuda as Nações Unidas, que de imediato enviou a Força Multinacional Interina, chefiada pelo Brasil.

Ainda em 2004, o Conselho de Segurança da ONU considerou o país mais pobre das Américas como uma ameaça para a paz internacional, e com isso criou a Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (MINUSTAH), que contava com soldados de vários países, entre eles o Brasil, que os comandava.

O homem escolhido para liderar a MINUSTAH foi o General Augusto Heleno Ribeiro Pereira, que ao se retirar do poder disse:

“Desculpas inconsistentes continuam adiando providências urgentes no campo econômico e social, obrigando os militares a realizar ações humanitárias que fogem a sua alçada. Deixei o Haiti convicto de que somente a geração maciça de postos de trabalho melhorará as condições de vida e criará uma esperança de futuro para os jovens haitianos. Exigir uma segurança impecável para aplicar recursos quando 80% da força de trabalho não possui emprego formal e 70% do povo sobrevive miseravelmente com uma refeição diária soa utópico e até mesmo cruel.” (grifos nossos)

Nas palavras de Pereira fica claro que o papel das tropas no país é garantir a “segurança impecável para aplicar recursos” e, ainda de acordo com ele, que ações humanitárias “fogem da alçada” das tropas, que se vêem, às vezes, obrigadas a realizar. E é por esse e outros motivos que queremos demonstrar a nossa repulsa com a permanência de soldados dos EUA e da ONU, principalmente os brasileiros, em solo haitiano.

O Brasil, ciente há anos da condição precária da população haitiana, esperou pela ocorrência de uma tragédia como a do último 12 de janeiro, para enfim tentar justificar a presença militar no país com o discurso de força humanitária.

Porém, com o exército brasileiro em terras haitianas há quase 6 anos, o máximo que eles fizeram para mudar a situação foi prover segurança para que grande empresas multinacionais, como a Wrangler e a Levis pudessem investir seu capital no país em troca de mão-de-obra semi-escrava (o salário-mínimo é de menos de 50 dólares por mês, os trabalhadores não possuem direitos trabalhistas e as jornadas de trabalho chegam a ultrapassar 14 horas/diárias)

Por esses motivos acima apresentados, demonstramos que neste ano de 2010 o nosso tradicional pedágio terá uma profundidade maior do que as edições anteriores. Pretendemos, com ele, não somente arrecadar dinheiro para uma doação humanitária, mas para além, demonstrar que estamos cientes do que acontece no mundo inteiro, e que não estamos fechados numa realidade apenas nossa.

E estando cientes do que ocorreu e vem ocorrendo no Haiti, iremos às ruas no dia 25/02 a partir das 14:00, nos principais pontos da cidade, manifestar nosso repúdio à presença das tropas militares no Haiti, exigindo o retorno das tropas brasileiras, o envio de médicos e enfermeiros, o perdão da dívida externa do Haiti e arrecadando dinheiro na forma de pedágio para doarmos a uma organização popular, para que o povo haitiano e os trabalhadores controlem os recursos recebidos.

E para isso ocorrer da melhor forma possível, esperamos contar com o apoio de todos os alunos, sejam calouros, sejam veteranos, do câmpus para promover o ato com sucesso.

Estudantes e entidades da Comissão de Recepção dos Calouros de 2010

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