sábado, 30 de janeiro de 2010

A RECONSTRUÇÃO DO HAITI DEVE ACONTECER SEGUNDO AS MÃOS HAITIANAS!

Por André Augusto e Leonardo Rodrigues

Aconteceu a primeira sessão acerca da proposta do Plano Estratégico de Reconstrução do Haiti, cuja sede de discussão foi o Canadá, coordenada por um comitê integrado por Brasil, Haiti, República Dominicana, União Européia, Estados Unidos, Canadá, México e entidades como a ONU, a OEA e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). E a resolução medular de toda a Conferência, em que a “solidariedade” traz estampada no rosto a bandeira de países com a mais terrível seriedade, é que: o governo do Haiti estará na liderança da reconstrução de seu próprio país, mas a Organização das Nações Unidas (ONU) terá papel-chave na coordenação dos esforços de reconstrução. Com isso, a farsa da disputa de bastidores entre Brasil, EUA e União Européia pela primazia nas atividades de recuperação do Haiti ficou aparentemente em segundo plano; mas simplesmente porque atrás da cortina essa disputa ocorre mais livremente e sem platéia. O que lhe enchia o fôlego era a velha brincadeira medieval em que o servo (Brasil) aproveita cada oportunidade para fazer as vezes de mestre; para sua alegria, o mestre aceitou por ora fazer as vezes de servo.
As mesmas entidades que sugaram o tutano do país querem, portanto, mastigar seus ossos. Cavaram o abismo no Caribe; agora farfalham e gritam pelo prazer de ouvir seu próprio chiado. Nessa Conferência Preparatória Ministerial, assume-se que “os haitianos são donos de seu próprio futuro” e que “nós respeitamos a soberania haitiana, vamos envolver o povo haitiano e estaremos alinhados com as prioridades do governo do Haiti”. Tiveram muito cuidado para não trocar a frase, e envolverem o governo do Haiti alinhando-se às prioridades do povo haitiano. Sabem que não se podem atar politicamente com o povo sem alguma proteção.
O revolucionário Louis Fraina dizia corretamente que “a política das frases prepara a reação. As consignas da revolução podem ser usadas e assimiladas até por políticos integralmente burgueses: sua ação, nunca”. Para nós, o rumo da intervenção imperialista é dado. Cumpre, pois, dissecar a frase. Nós respeitamos a soberania haitiana desde que ela saiba absorver soberanamente a coordenação da Organização das Nações Unidas; desde que o vassalo afastamento de Préval seja a maior expressão da soberania do Haiti. De outro modo, caso os haitianos não queiram educar-se nesses princípios, teremos de envolver o povo haitiano e mostrar às claras as prioridades do verdadeiro governo do Haiti.
Um organismo como a ONU, que pisoteia a cabeça de paupérrimas nações conflitantes na sua mesa de diálogo e as obriga a deixar de guerrear por si mesmas e convergir em favor de uma só nação imperial, só pode existir durante a existência de um país que seja a força militar hegemonicamente imperialista e a liderança incontestável da polícia de assalto internacional. A ONU nasceu após a dissolução da fracassada Liga das Nações (1919-1946), da qual os EUA não participava; teve como berço a assinatura de sua cartilha em São Francisco, na Califórnia, em 1945. Desde lá, quatro dos cinco principais órgãos das Nações Unidas estão situadas no quartel-general da ONU, em Manhattan, cidade de Nova York (incluindo o Conselho de Segurança e o Secretariado da ONU). O Conselho de Segurança sempre conta com a presença incontornável dos EUA. França e Inglaterra, outros dois membros permanentes do Conselho, estão representados pelas tropas da MINUSTAH no Haiti. A Assembléia Geral da ONU determina o orçamento anual regular do órgão e examina a quantia proporcional com que cada membro deve contribuir. Para não ficar sobremaneira dependente do financiamento de um país, estabelece o teto da contribuição em 22% do orçamento total da ONU: os Estados Unidos é o único país que atinge o teto de 22%, seguido de longe pelo Japão com 16% do total. O comando econômico revela o comando político. Os Estados Unidos são o redator-em-chefe da ONU.
Com isso, os EUA literalmente controla todos os aspectos estruturais e financeiros da Organização das Nações Unidas, mantendo-se na liderança das “operações de paz” das tropas militares internacionais. No Haiti não é diferente: o contingente militar norte-americano sozinho é maior que a soma de todos os soldados juridicamente sob o rótulo das Nações Unidas. A sentença “a liderança da reconstrução é do Haiti, mas a coordenação é da ONU” se transforma numa tautologia: a liderança de todas as brutalidades é norte-americana. E a presença do lacaio exército brasileiro não muda a figura. O governo de Lula e os serviçais da MINUSTAH, carregando nas costas a reação de seu próprio tirano, como o mais servil dos animais, fizeram o serviço sujo que os EUA não podiam fazer na era Bush – sob pena de aumentar o anti norte-americanismo na região – porque salivava por usar a coroa imperial, mesmo que de mentira. Hoje são obrigados a reconhecer quem manda: os EUA. Deram os ombros para que os EUA subissem em cima e não pisassem com suas botas na lama; agora, os EUA dispensam os ombros e lhe paga com chutes. Aquele que gosta de ser adulado é digno do seu adulador.
Da sujeira veio e pela sujeira foi retirado. Com o afastamento subterrâneo de René Préval, colocado no governo do país com o apoio de George Bush, da execução das tarefas estatais, e com a afluência de mais de 20,000 soldados norte-americanos ademais dos soldados alegadamente sob a ONU, o capital dos EUA é o verdadeiro governo no Haiti. “Respeitar as prioridades do governo do Haiti” significa prostrar-se às prioridades do país que comanda militarmente o Haiti e que preenche com o seu capital a parte mais importante da economia dele; significa que os haitianos pagarão pelas necessidades dos EUA no Haiti.
Como, portanto, os haitianos podem tranqüilizar-se quando a Conferência declara que “respeitamos a soberania do Haiti e alinhamo-nos com as prioridades do governo do Haiti”?
“O governo haitiano está funcionando em condições precárias, mas é capaz de promover a liderança que o povo haitiano espera dele nos desafios colossais em busca do desenvolvimento”. Ninguém promove a liderança quando se encontra no estado de cabo condutor da liderança de outrem. René Préval, que desde o terremoto se refugiou em uma compacta estação de polícia, que se tornou seu quartel-general contra os olhos e os ouvidos do povo haitiano, abandonou o Haiti. O povo haitiano corretamente não demonstra nenhuma confiança nele. Não por outro motivo começaram a escavar nos escombros e arrombar as lojas para se apoderar dos artigos de consumo existentes na capital. O primeiro-ministro do Haiti, Jean-Max Bellerive, esquece que o povo não segue ventríloquos, e que os ventríloquos é que obedecem as mãos de seu manipulador.
Só acertou em que os esforços de recuperação serão “dos haitianos para os haitianos”, isto é, do povo pobre, das trabalhadoras e dos trabalhadores haitianos para eles mesmos, e o presidente Préval (e seus senhores) não tem nada que ver com isso.
Da catástrofe natural capitalista não serão libertados os trabalhadores e o historicamente oprimido povo haitiano pela mão de seus algozes. A mão que oprime e oferece a condição única miserável, já mostrou a que veio e trás consigo uma reconstrução carregada de chumbo.
A reconstrução do Haiti para os haitianos só poderá ser capitaneada por seus trabalhadores e seu povo oprimido, que têm interesses inversos aos do imperialismo e de seu governo nacional, pelo imperialismo também posto. Cabe aos revolucionários a maior solidariedade de classe com seus irmãos haitianos, tomando a causa do povo trabalhador daquele país como a causa dos trabalhadores da América Latina e do mundo.
Chamamos a todas as organizações de esquerda, sindicatos, movimentos sociais e entidades estudantis a imediata construção de uma solidariedade de classe ativa aos haitianos! Que os recursos recebidos sejam controlados e capitaneados pelos trabalhadores e pelo povo pobre haitiano! Nenhuma intervenção imperialista na reconstrução do Haiti! Que todas as tropas deixem imediatamente aquele país!

Dia a Dia

O dinheiro não tem senhor. Mas o senhor deixa de ser senhor assim que é desmonetizado. Como os trabalhadores e o povo pobre haitianos foram impedidos violentamente de se apoderar com suas próprias mãos dos artigos de consumo presos nas vitrines de comerciantes e donos de supermercados, e não puderam conduzir a satisfação de suas necessidades mais vitais lado a lado com a capacidade popular de superar as mazelas do capital, a ajuda internacional encontrou o meio burguês de superar as mazelas do povo pobre haitiano. Agora, parte da ajuda internacional será revertida diretamente em dinheiro para que os haitianos comprem as mercadorias que se ocutavam durante as duas últimas semanas nos rincões mais próximos das prateleiras de Porto Príncipe. Pode-se dizer que os sobreviventes que tiveram mais sucesso desde o terremoto foram os insumos alimentares, enquanto aqueles que deles sentiam falta caíam vítmas da hipocrisia cruel do imperialismo interncaional.
Agora, as mercearias serão novamente abertas, pois no seu capacho entram o único cliente que deseja alimentar: o dólar.
Que os trabalhadores não nutram ilusões sobre a grande responsabilidade humanitária demonstrada pelos norte-americanos: o único ente que mantêm vivo é exatamente aquele que enviam através de porta aviões, helicópteros e agências bancárias.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

CACH-Unicamp chama Flashmob no centro de Campinas em solidariedade ao oprimido povo haitiano

TODOS E TODAS AO FLASHMOB NO LARGO DO ROSÁRIO, CENTRO DE CAMPINAS, ÀS 17H EM APOIO ATIVO AO OPRIMIDO POVO HAITIANO!


O estado de coisas e das pessoas no Haiti é agravado diariamente pelo terremoto mais permanente no país: o terremoto social submete as vítimas do terremoto natural. O terremoto do dia 12 de janeiro já havia causado a morte de quase 100,000 haitianos, e deixou por volta de 609,000 desabrigados, segundo cálculos oficiais das Nações Unidas. Mas o abalo natural acabou há duas semanas; e mesmo assim, o número de vítimas, a partir de algumas estimativas, praticamente dobrou nessa última semana (quase 200,000) e o número de desabrigados subiu para 1,000,000. Por que os números crescem diariamente de maneira tão assombrosa?
O terremoto no Haiti foi um fenômeno natural que não pôde ser evitado; mas as suas conseqüências e como lidar com ele, não são naturais nem inevitáveis. Embora as conseqüências do terremoto natural, como corte do suprimento de água, de comida e de energia elétrica, além dos feridos que batalhavam para sobreviver desde o dia 12, se manifestem neste aumento nas duas taxas, a intervenção de organismos internacionais como a ONU e dos governos dos Estados Unidos e do Brasil ajudam a afastar ainda mais os haitianos da verdadeira fonte da ajuda humanitária: o próprio povo pobre e trabalhador haitiano.
Na situação atual, os haitianos são obrigados a trabalhar na direção oposta daquela da “comunidade internacional”. A coordenação norte-americana e das Nações Unidas obriga os haitianos a manterem-se passivos quanto aos esforços de salvamento e reconstrução do país. Os haitianos são instigados a formarem filas quilométricas para receberem alimentos, sem que desde o início haja alimentos para todos, esperando inutilmente por uma ajuda que não chega; são sistematicamente impedidos de participarem das operações de distribuição. Os agentes da ajuda oficial pedem calma para que a sua contribuição ao desastre seja o esforço único, recebida em silêncio.
Enquanto isso, as tropas internacionais da ONU (capitaneadas pelos soldados brasileiros de Lula), o exército norte-americano de Barack Obama (que, sozinho, já soma mais soldados que todas as nações juntas, com um destacamento de mais de 20,000 soldados) e a polícia de mais de trinta países, além da polícia local, asseguram ao povo haitiano que ele não terá acesso aos artigos de consumo já existentes na capital, dentro de mercearias e supermercados. A população que tenta justificadamente se apoderar da comida da cidade é perseguida e recebe tiros da polícia. Esta força policial desumana já matou cerca de 27 pessoas, chamando famintos de “saqueadores”. Vão aos montes a Porto Príncipe para ajudar os haitianos a entender que eles mesmos não são capazes de se ajudar.
Por causa dos estragos causados pelo terremoto na infraestrutura de Porto Príncipe, a ajuda internacional continua presa em navios cargueiros e porta aviões dentro da baía da capital, e em aviões de resgate no aeroporto cheio de aeronaves que não podem se locomover. As estradas ainda estão cobertas por escombros, dificultando ainda mais o transporte de água e alimentos. A temporada de chuvas no Haiti começa a partir de maio, e quase metade dos sobreviventes não possui alojamentos seguros para se abrigarem das fortes tempestades caribenhas, nem estocagem de comida.
O destino do Haiti precisa estar de uma vez por todas em suas próprias mãos. A ajuda internacional só pode atingir positivamente o povo haitiano se esse mesmo povo estiver na coordenação dos esforços humanitários e com o controle dos recursos recebidos. Os haitianos não podem ter paciência, nem podem esperar por ajuda. É impensável achar que a demora na entrega dos recursos colabora com o bem-estar do povo pobre de porto Príncipe, como quer a mídia. Nós, estudantes do Centro Acadêmico de Ciências Humanas da Unicamp exigimos novamente a retirada incondicional das tropas da ONU (MINUSTAH) do Haiti, e que o Congresso brasileiro revogue imediatamente o envio de mais 900 soldados para lá, anunciado essa semana. Repelimos a invasão do exército norte-americano em toda a América Central e exigimos sua saída. Que o dinheiro necessário para a manutenção das tropas seja revertido em ajuda direta. Que a dívida externa do Haiti seja cancelada. E, principalmente, que as organizações trabalhadoras e o povo pobre do Haiti controlem os recursos recebidos e sua distribuição interna: comida, água, suprimentos médicos e barracas.

Centro Acadêmico de Ciências Humanas da Unicamp Gestão Terra em Transe
contato (www.cach-unicamp.blogspot.com)

terça-feira, 26 de janeiro de 2010

Dia a dia - Conferência do Canadá: quem comanda a reconstrução do Haiti?

A conferência realizada ontem no Canadá, contando com cerca de 20 países, para decidir os rumos da “reconstrução” do Haiti, diz dar a seu próprio governo o comando de tal tarefa, ao tempo que a ONU será a coordenadora. Tamanha confusão levou a diversos questionamentos e dúvidas a respeito da resolução. Quem coordena afinal a reconstrução do Haiti? Porque tanta disputa internacional (EUA, Brasil, UE, ONU) para assumir a tarefa, tratando-se de um país arrasado e afundado na miséria?
Fato é que os EUA já contam com 20 mil soldados em terra haitiana ou em sua costa, a ONU já aprovou a duplicação de seus efetivos (movimento acompanhado ontem pelo Congresso brasileiro, que também dobrará suas forças soldadescas no país, como proposto por Lula-Amorim) e o Haiti já conta com a presença de homens armados de mais de 30 países (um mini-Afeganistão?!). Ao tempo que o governo Haitiano, desde a catástrofe natural-social do último dia 12, permanece no mais completo silêncio-inerte. De modo que só podemos responder que o comando da “reconstrução” do Haiti está nas mãos do imperialismo e seus fantoches.
E do porque de tanta disputa para guiar a nau haitiana, podemos dizer que se trata de um ponto geopolítico estratégico para o imperialismo. A busca pelo domínio do sub-continente, a América Central, por parte do imperialismo ianque, vem ganhando força com o golpe em Honduras no meio do ano passado, consolidado com a reacionária transição “democrática” na semana passada, o crescimento das forças de direita na Venezuela, que através da ALBA, estava ganhando espaço na AC, o isolamento da ilha de Cuba e agora contam também com a “reconstrução” do Haiti. Além do que a miserável mão-de-obra haitiana permite a extração de uma mais-valia absolutíssima.

Que os trabalhadores e oprimidos haitianos tomem para si a reconstrução do país!Fora imperialismo do Haiti e da América Latina!

Dia a Dia

O Congresso brasileiro acaba de aprovar ao Executivo a remessa de mais 900 militares para o Haiti, além de deixar ais 400 deles de prontidão, para qualquer eventualidade. O envio das tropas adicionais tem sua origem no pedido do Conselho de Segurança da ONU para que o Brasil reforce a segurança pública na área: em boa hora, para o órgão internacional, tanto por haver terminado o período "oficial" de busca por sobreviventes, o que realmente já causa alguns trastornos entre aqueles que não encontraram seus familiares e não desistiram das buscas, quanto para aplacar a rusga entre Brasil (com o maior contingente militar dentro da Missão de Estabilização do Haiti) e os Estados Unidos pelo predomínio diretivo da operação de ocupação, que o general Floriano Peixoto Vieira Neto defendeu com as unhas fosse do Brasil, usando argumentos empreiteiros, como "está na cláusula do acordo de intervenção" e "respeitaremos as determinações iniciais e esperamos que os países também aceitem". Para Celso Amorim, Nelson Jobim e o governo do Brasil, nunca se tratou mais do que manter cristalina a vitrine de seu "poder Moderador" na América do Sul através do tempo de serviço "humanitário" prestado no Haiti.
Resta saber como o Brasil faz coincidir respeito e medo tão diretamente.
O contingente brasileiro, que já era de 1,300 soldados, pode atingir até 2,600 militares na próxima semana.

sábado, 23 de janeiro de 2010

ATO DE SOLIDARIEDADE AO POVO HAITIANO REALIZADO NO RIO DE JANEIRO

por LER-QI RJ


Hoje, dia 22/01 foi realizado um ato na Cinelândia em solidariedade ao povo haitiano e pela retirada das tropas da ONU e dos Estados Unidos. Esta importante iniciativa que marca o lançamento do “Comitê de solidariedade ao povo do Haiti do Rio de Janeiro” precisa ser acompanhada por ações em todas capitais e grandes concentrações urbanas do país.

Esta iniciativa, no entanto, reuniu poucos dirigentes sindicais e lideranças de movimentos populares, ainda estando aquém do enorme potencial de solidariedade mostrado pelo povo brasileiro e pela significativa base que possuem as organizações e partidos políticos, sindicatos, centros acadêmicos e movimentos sociais que compõem o comitê.

Atuamos neste comitê buscando que seja possível desenvolver uma solidariedade ativa que se coloque nas ruas em denúncia das tropas americanas e da ONU, sob a infeliz liderança brasileira com o governo Lula, e pela independência política da classe trabalhadora haitiana, como o único sujeito social que pode garantir que os recursos e a ajuda humanitária de fato sirvam aos milhares de necessitados e famintos do país e que não sejam desviados para atender somente os bairros ricos e os próprios funcionários e militares da ONU. Neste sentido achamos que o comitê constituído no Rio de Janeiro precisa avançar para realizar a denúncia da militarização que ocorre no Haiti mostrando o papel do governo Lula em garantir uma segurança no país caribenho que é a segurança da propriedade privada e de impedir que os famintos saqueiem mercados para sua sobrevivência. O panfleto do comitê distribuído à população no dia 22/01 apesar de ter como consignas “solidariedade, sim! Ocupação militar, não”, não menciona o envolvimento de nosso país nesta militarização e o recente projeto do governo Lula em praticamente duplicar as forças brasileiras no país.

As ações já propostas no comitê como a realização de um ato em quinze dias, proposta feita por dirigentes do MST, precisa ser acompanhada de efetivas ações das organizações sociais, sindicais e políticas que compõem o comitê e serem levadas a todos comitês que se constituam no país, rompendo a inércia de realizar atos somente em março e assim colocar urgentemente de pé uma grande campanha pela retirada das tropas brasileiras, da Minustah e das tropas ianques, para que as organizações operárias e populares do Haiti controlem os recursos recebidos!

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Importante ato na Av Paulista leva Solidariedade operária e popular ao povo do Haiti


Nessa quinta feira, dia 21 de janeiro, mais de cem pessoas se concentraram na Av. Paulista em frente ao prédio do consulado do Haiti no Brasil, para se manifestar em solidariedade e em defesa do povo haitiano. O ato foi convocado pelo grupo de mulheres Pão e Rosas, pelo movimento de estudantes A Plenos Pulmões e pela Liga Estratégia Revolucionária-QI, e estiveram presentes estudantes de diversas universidades, centro acadêmicos, como o CASS da PUC-SP, trabalhadores e outros setores, como o coletivo Força Ativa. Fomos às ruas para denunciar as absurdas declarações rascistas do cônsul do Haiti, que podem ser vistas no nosso blog (http://solidariedadeaohaiti.blogspot.com/) e para exigir a imediata retirada das tropas da Onu, comandadas pelo Brasil, e das tropas dos EUA, que sob o pretexto da “ajuda humanitária” buscam o controle político e militar sobre o Haiti. No mesmo momento em que um novo tremor atingiu mais uma vez o Haiti, a ONU declarou que vai dobrar sua presença e o governo Lula já está encaminhando uma resolução ao congresso nacional para dobrar a presença militar brasileira. Como cantamos no ato:

“Comida, remédio, mandem tudo pro Haiti
Só não mandem sua
s tropas para o povo reprimir”

Reafirmamos nosso chamados às organizações de esquerda, aos centros acadêmicos, sindicatos e organizações de direitos humanos para fortalecer a luta em defesa do povo do Haiti e pela imediata retirada das tropas da ONU e dos EUA deste país.

“Solidariedade operária e popular
Pelo povo do Haiti nós temos que lutar”

"Remédio, comida
Mandem tudo ao Haiti
Só não mandem suas tropas
Para ao povo reprimir"


“Fora ianques, Fora ianques,
Fora imperialismo, haitianos adiante”

“Fora já, fora já daqui,

O cônsul racista e as tropas do Haiti”

“Somos as negras do Haiti,
Contra as tropas de Lula estamos aqui”

Este foi um importante primeiro passo que demos na luta para levar solidariedade ao povo haitiano, e para impedir que se utilizando da tragédia as tropas do imperialismo norte-
americano e da MINUSTAH perpetuem a ocupação do Haiti. Esperamos que às próximas ações se somem muitos mais, pois a cada dia fica mais explícito que as tropas da "ajuda humanitária" ao contrário de socorrer a população, a oprime e utiliza seu sofrimento em prol de seus interesses próprios.

Fora já as tropas da Minustah!
Fora ianques do Haiti e de toda América Latina!
Que os lucros dos capitalistas sejam utilizados para enfrentar a catástrofe
!
Que as organizações dos operárias e populares controlem os recursos recebidos!
Pelo cancelamento da dívida externa do Haiti!

Importante ato no centro de Campinas em solidariedade com a classe trabalhadora e o povo oprimido haitiano!


Dando continuidade a sua concepção de entidade militante, o CACH-UNICAMP, junto com o grêmio ETECAP realizaram nesta quinta-feira, 21/01, uma manifestação em solidariedade ao povo haitiano e pela retirada das tropas militares do Haiti. Ainda que não tivesse um grande contingente de manifestantes, conseguimos fazer uma importante intervenção estudantil, que trouxe consigo a voz dos que lutam contra a opressão imperialista no Haiti.
Além de cartazes que expressaram esta luta anti-imperialista e por uma ajuda humanitária efetiva ao povo haitiano, contamos com uma carta escrita pelo CACH-UNICAMP em que colocavamos mais profundamente nossa opinião crítica sobre os acontecimentos e estabeleciamos uma relação mais efetiva com a população de Campinas.
Mesmo estando em Campinas uma base do exército, e muitos soldados que são enviados ao Haiti saem daqui, muitos que passavam por nossa manifestação se colocavam favoráveis a volta das tropas brasileiras do Haiti, compreendendo que aquilo faz parte de um jogo sujo de opressão sobre um povo.

Desse modo, com essa manifestação demos um primeiro passo no sentido de construir uma entidade militante que atue cotidianamente no sentido de transformar a realidade e lutar por conquistas dos estudantes, em orgânica aliança com os trabalhadores.
Façamos mais manifestações em solidariedade ao povo oprimido haitiano e contra o imperialismo no Haiti.

Iuri Tonelo e Leonardo Rodrigues, coordenadores do CACH e militantes do Movimento A Plenos Pulmões.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Dia-a-dia

Dia-a-dia
O Sr. Ban Ki-Moon, Secretário Geral da ONU, escreveu na Folha de São Paulo hoje para dizer que há “esperança” para a catastrófica situação haitiana. Com certeza da esperança que fala e “que veio trazer” não é a que apresentam os olhares daqueles do Haiti. Fala das forças imperialistas e, sem meias palavras, afirma: “a polícia e os contingentes militares estão fazendo a sua parte para ajudar a manter a ordem em desafiador ambiente pós-terremoto”. A esperança e a ordem deste lado, como sabemos desde sempre, só pode ser conquistada pela força, goela abaixo, garantindo a “estabilidade” do mundo em preto e branco do imperialismo. Como o próprio Sr. Ki-Moon afirmou, os haitianos esperam, há mais de uma semana, que a ajuda chegue, até agora só puderam ver chumbo para vivos e descaso para quase-não-vivos.

Devo-lhe avisar, senhor: que perca a esperança, pois a calmaria imperialista também tem seu prazo de validade. O dia em que os oprimidos e explorados haitianos tomarem para si sua liberdade futura, assim como a classe trabalhadora mundial, seus dias de gozo acabarão. Ela virá e inverterá toda esperança e ordem imperialista!
Fora imperialismo do Haiti e da América Latina!

Haiti: Um peão no jogo

Haiti: Um peão no jogo

O título original, “Haiti: Pawn in their game” é uma alusão ao título de uma música do Bob Dylan “Only a pawn in their game”, ou Apenas um peão do jogo deles, que trata da questão racial nos EUA.
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Texto escrito em 1986 por Cris Harman, interessante de análise marxista sobre a formação social haitiana, acrescentando fundamentos para a luta política contra a ideologia racista e a explicação pequeno-burguesa justificativas da opressão sobre esse país e seu povo.

Declaração de um militante independente sobre participação no ATO-ESCRACHO

Pretendo comparecer a esse ato, principalmente no sentido de denunciar os abusos e absurdos cometidos pela "força de paz" e seus agentes. Nesse sentido, creio que seja primordial a necessidade de expor e um dar peso excepcional na denúncia de abusos por parte de militares. Abusos estes que, se não me engano, foram denunciados tempos atrás por alguns soldados, evidenciando a existência de um toque de recolher cuja pena por transgressão era ser alvejado sem critérios.

Enfim, digo isso pois a mídia burguesa, o governo brasileiro e outros governos tem trabalhado firmemente na idéia das forças armadas salvadoras, benevolentes, distanciando qualquer suspeita de abuso. Quanto ao fato de que as organizações populares e operárias sejam imbuidas da tarefa de organizar a ajuda enviada, eu creio que muitos questionariam quais são essas organizações e se podem, estruturalmente falando, auxiliar e desenvolver essa função. Sei plenamente que a ajuda desempenhada pelos exércitos ali presentes não compensa o papel repressor e abusivo que desempenharam, no entanto é importantissimo analisarmos a questão organizacional do proletariado de lá e suas condições e mostrar a importância de que a ajuda seja por eles organizada pra galera, muito porque a nossa classe operária tem de se desvencilhar dessa imagem propagada pela mídia e analisar a realidade, que deixa clara a exploração que resulta na miséria do país, e que, dessa forma, não faz sentido confiar no exército e nos governos para essa tarefa de auxílio.

André Bof, estudante de Ciências Sociais da USP e integrante da chapa Canto de Guerra, integrada pelo Movimento A Plenos Pulmões e indepednentes, para as eleições passadas para o CEUPES 2010

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Pronunciamento de mulheres e feministas da América Latina e do Caribe: Solidariedade com nossas irmãs haitianas!


Companheiras: diante da tragédia que está ocorrendo no Haiti, nós mulheres do Pão e Rosas Brasil, Argentina, Chile, Bolívia e México queremos propor a vocês soltar uma declaração comum de solidariedade com as mulheres haitianas...

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Declaração do Movimento A Plenos Pulmões de Solidariedade ao povo haitiano


No dia 12 de janeiro, um terremoto de proporções catastróficas atingiu o Haiti vitimando centenas de milhares de pessoas e provocando uma abissal destruição no país. No entanto, se essa tragédia foi uma fatalidade ocasionada por razões naturais, os fatos que se seguem a ela não o são. E por isso entendemos que uma declaração de solidariedade ao povo haitiano, para além de apenas manifestar condolências por seu sofrimento, deve focalizar os fatos que envolvem essa tragédia ocorrida em um país economicamente devastado e que vive uma situação de convulsão política.

Nos últimos dias a mídia brasileira vem publicando uma enxurrada de reportagens sobre a tragédia no Haiti, que se tornou um tema central na maioria dos veículos. Além da manifestação de solidariedade às vítimas (sempre em tom de horror moralista) a maior parte dessas matérias prima por ressaltar a miserabilidade do Haiti, a condição de vida degradante de grande parte de seus habitantes e os problemas crônicos de saúde e educação do país. Do mesmo modo, apresenta os haitianos como um povo exótico e carente dos valores e preceitos da “civilização”. O que se pretende, nitidamente, é traçar uma caricatura do povo haitiano como “atrasado” e incapaz de gerir por si próprio os destinos de seu país, legitimando dessa forma a intervenção das tropas militares e a opressão imperialista sofrida pelo país mascaradas sob a forma de “missão de paz” e “ajuda humanitária”.

Somam-se a essas matérias declarações absurdas, nitidamente racistas que naturalizam e reproduzem a lógica de opressão, como a do pastor Pat Robertson, fanático religioso da extrema-direita dos EUA para quem a catástrofe do terremoto trata-se de uma “punição divina” aos haitianos que teriam feito um pacto com o demônio para se libertar da França. E, mais grave ainda, a declaração do Cônsul do Haiti no Brasil para quem “os africanos são amaldiçoados” e a tragédia no Haiti é interessante por dar visibilidade ao país.

A primeira coisa a se reparar é que a pobreza do Haiti não se deve à “incompetência dos haitianos” nem muito menos às “punições divinas”, mas sim ao processo de espoliação econômica sofrido pelo país ao longo de vários séculos; que é uma prova de que o capitalismo não tem nada a oferecer aos trabalhadores e ao povo pobre e oprimido exceto miséria e catástrofe. Historicamente o Haiti foi uma colônia francesa, então nomeada São Domingos, responsável por uma grande parcela da produção mundial de açúcar e de grande importância econômica para a metrópole, e na qual predominava o modelo escravista e a lógica de exploração.

Em 1791 o Haiti é palco de fervorosos acontecimentos políticos e assiste ao triunfo de uma rebelião escrava, dirigida por Toussaint Louverture, que extinguia a escravidão no país e o tornava independente da França, o que sem dúvida representava um duro golpe para as nações escravocratas que passariam a viver com o temor de um acontecimento semelhante. Em função disso, o Haiti sofrerá inúmeras invasões e ocupações por diversos países europeus ao longo do século XIX, incluindo a própria França, cuja invasão militar resulta na imposição ao Haiti de uma dívida em troca da independência.

O Haiti também possui um amplo histórico de golpes militares, ocupações e intervenção política e econômica por parte dos EUA ao longo do século XX e também no início do século XXI. Para citarmos apenas dois exemplos, lembramos que as ditaduras genocidas de “Papa Doc” e “Baby Doc”, que somadas duraram 30 anos, se deram sob a tutela dos EUA, assim como o atual governo supostamente “democrático” de René Preval, que desde eleito vem cumprindo rigorosamente os planos traçado pelo FMI, ampliando a abertura econômica, privatizando empresas e avançando na retirada de direitos trabalhistas. Tudo para garantir que essa ex-colônia revoltosa permaneça em seu devido lugar, fornecendo gêneros agrícolas para exportação a baixo custo e mão-de-obra semi-escrava nas transnacionais de tecidos e outros bens de consumo.

Assim, quando Barack Obama, de forma cínica, convoca a “comunidade internacional” a “voltar seus olhos para o Haiti e ajudá-lo” o que está sendo colocado não é uma desinteressada “ajuda humanitária”, mas um plano político de ocupação da região caribenha, que ao mesmo tempo previne a migração de haitianos para a costa de Miami e mantém um considerável contingente militar em uma área muito próxima de Cuba. Basta observar que os dois órgãos da “missão humanitária” dos EUA são o Departamento de Defesa do país, que acaba de enviar mais dez mil soldados para o Haiti, e a US Agency for International Development (USAID), o mesmo órgão usado para a “reconstrução” do Iraque, responsável pelas reformas educacionais do Brasil no período da Ditadura Militar e também atuante no Chile durante a ditadura de Pinochet.

Mais demonstrações de cinismo também são visíveis no Governo Lula. Desde 2004, quando as tropas da ONU ocuparam o Haiti, o Brasil, com o intuito de pleitear uma vaga no Conselho de Segurança da ONU, exerce um papel de liderança na ação de intervenção nomeada Minustah. Ainda que Lula diga que o propósito da intervenção do exército brasileiro é “respaldar um governo democrático”, tudo que a ocupação militar tem causado são assassinatos, repressão, estupros, massacres nos bairros pobres e violações diversas dos direitos humanos. Em 2008, a população haitiana se rebelou e saiu às ruas em protesto contra a ocupação de seu país. E o papel da “missão de paz” foi reprimir e assassinar os manifestantes em nome da “manutenção da democracia”. Quando se trata da democracia dos ricos, qualquer manifestação dos oprimidos é uma “ameaça à democracia”...

E serão exatamente essas mesmas tropas interventoras e assassinas as responsáveis por controlar os recursos enviados em ajuda ao Haiti e “garantir” a reconstrução do país. Sob o pretexto da ajuda humanitária, há na verdade um recrudescimento da militarização no Haiti. É evidente que não há possibilidade alguma de reconstrução em um país ocupado militarmente. E por isso qualquer declaração sincera de solidariedade ao povo haitiano deve incluir a exigência de retirada das tropas do Haiti. Além disso, é fundamental que os recursos enviados em ajuda ao Haiti sejam controlados e geridos pelo próprio povo haitiano, através dos sindicatos, das organizações populares e dos trabalhadores. Pois, obviamente, não é possível confiar nem nas tropas assassinas e nem nos órgãos do imperialismo.

Nós, do Movimento A Plenos Pulmões, sempre nos solidarizamos com os oprimidos de todo o mundo, mas não de forma hipócrita como a grande mídia e os políticos burgueses; nos solidarizamos de forma ativa, nos colocando lado a lado, ombro a ombro com os que sofre com a opressão. E por isso entendemos que é parte conseqüente e fundamental da solidariedade com o povo haitiano colocar em pé uma grande campanha pelo fim da ocupação militar do Haiti e a retirada imediata das tropas interventoras. É assim, lutando ativamente contra a opressão do povo haitiano que pretendemos expressar a nossa solidariedade, de modo sincero e coerente.

Dia a dia no Haiti


Dia a dia no Haiti

Hoje, 19/01 deve ser aprovado pelo Conselho de Segurança da ONU o envio de mais 3.500 soldados para o Haiti, aumentando o efetivo das tropas de ocupação naquele país para 12.500. Já os Estados Unidos sozinho chegam a ocupar o país com 13.300 soldados, além dos seus helicópteros militares, porta aviões e demais arsenais militares. O Brasil diz estar pronto para dobrar sua força de ocupação no já oprimido e arrasado Haiti.

Ao contrário da dita “ajuda humanitária”, o EUA vem aumentando incessantemente seu controle, igualmente irrestrito, sobre o Haiti. O já antes simples fantoche e presidente daquele país René Préval, hoje sai completamente de cena e abre espaço para o governo direto do imperialismo.

Fora as tropas da ONU e do imperialismo do Haiti!
Solidariedade operária e popular com o oprimido povo haitiano!


E em São Paulo

Em 18 de janeiro aconteceu em São Paulo uma reunião para coordenar uma campanha de solidariedade com o povo haitiano. Participaram da reunião as mais diversas organizações: CUT, MST, Jubileu Sul, “Comitê pró-Haiti”, Marcha Mundial de Mulheres; PT; Cáritas, da igreja católica; PSOL, Pastoral Operária; PCB, Abong, Cebrasp, PCB; Conlutas e PSTU.

Teria um grande efeito se servisse para organizar uma campanha séria e imediata, não só de arrecadação de fundos para o povo haitiano, como também de organização de ações reais e denúncia da ocupação e chefiada por Lula ao Haiti. A tragédia mostrou cada vez mais como a “ajuda humanitária” dos capacetes azuis de pouco ou nada tem servido aos haitianos. Muito pelo contrário: vê-se que a MINUSTAH atua (e é vista) como tropa de ocupação. Apesar da maioria dos setores presentes na reunião ter se pronunciado formalmente pela retirada das tropas de ocupação do Haiti, a negativa de dar uma luta aberta contra a política de Lula tira todo seu caráter efetivo.

O SINTUSP e o CASS da PUC-SP defenderam abertamente a necessidade de desmascarar
a política consciente do governo Lula de utilizar a catástrofe para cobrir a ocupação com um viés humanitário, enquanto busca ampliar sua presença internacional de olho num assento permanente do Conselho de Segurança da ONU. Como concretização disso colocaram a necessidade de um ato urgente. Entretanto, a reunião indicou um ato para o dia 21...de março (!?). O que terá acontecido daqui até 21 de março?

Os haitianos precisam de nossa solidariedade agora! Além da arrecadação de fundos, é preciso acabar com a ocupação. O povo haitiano é cada vez mais reprimido, e agora além das tropas da MINUSTAH estão 10 mil soldados norte-americanos. Lula e Obama devem ser desmascarados. Por isso a todos os que não querem esperar até 21 de março, chamamos a construir conosco um ato em solidariedade ao povo do Haiti, pela retirada das tropas de ocupação em 21 de janeiro. Assim que fechados os detalhes, postamos aqui!

Hillary Clinton: EUA estarão no Haiti “ontem, hoje e sempre”

A afirmação acima dá calafrios. Ao enviar 10 mil soldados norte-americanos ao Haiti, tomar o controle dos aeroportos, estradas e do que sobrou do país, tudo indica que a desgraça no Haiti será usada pelos EUA para reforçar sua presença direta na região. Viria bem a calhar para o imperialismo: se utilizaria da legitimidade do clamor de ajuda humanitária para fincar os pés na América Latina. Combina com a instalação nas 7 novas bases militares na Colômbia.

Uma coisa é clara: os EUA buscam impedir com sua presença que a pobreza a que submeteram o Haiti há tempos exploda em uma rebelião social. Qualquer um pode deduzir sem muito esforço que eles estão lá para reprimir, e não para ajudar. Mas será que também não estariam aproveitando a tragédia para se instalar no Haiti, e com sua presença pressionar Cuba, que fica logo ali ao lado?

Haiti: Anatomia de uma maldição


Aurélio Alonso
Fonte: Rebelion

Acabei de ler uma declaração de um pastor evangelista de TV americano Pat Robertson, sobre o Haiti em que declarou que uma praga causada por "um pacto com o diabo ', supostamente selada em ritos de vodu" que teria precedido as revoltas de escravos que iniciou a revolução de 1791 na colônia francesa de Saint Domingue. A revolução que levou à primeira independência de nossa América, consumada em 1 de Janeiro de 1804, depois de uma batalha cruel contra os exércitos de Napoleão, é contada pela história como uma das mais altas derrotas de Bonaparte. Se alguma influência as loas do vodu tiveram não foi negativa.

Mas a maldição não veio do céu cristão, veio da Europa e dos vizinhos do norte e do Ocidente, ao qual não devemos sentir orgulho de pertencer. Foi o Ocidente que não poderia permitir estar em seus domínios uma república nascida de uma revolução de escravos negros e mulatos. É curioso que a intolerância veio principalmente da antiga metrópole: a França saída da primeira grande revolução social, que fechou com ferocidade a economia ao Haiti, além de forçar a nação haitiana a pagar indenizações impostas de forma arbitrária, que custaram mais de meio século cancelar.

Além disso, a jovem nação da América do Norte, nascida da independência das treze colônias britânicas, se associou à França ao bloqueio de sua ex-colônia. A nova experiência política dos EUA, admirada por muitos liberais europeus da época, manteve o sistema de trabalho escravo no centro da sua economia por mais de meio século, e o Haiti não se encaixava em seus arredores. Isto significa que os dois países representantes da mais avançada modernidade, não hesitaram em estrangular as vias de sobrevivência da primeira república a ser realmente emancipada na América colonial, que era ainda por cima negra.

Muitos anos depois, no início do século XX, no âmbito da sua expansão e poder na região, os Estados Unidos completaram o desafio no Haiti, com uma ocupação militar que durou quase trinta anos (1915-1934), deixando o país materialmente desolado e sob a ditadura da dinastia Duvalier. Paradoxos da História: o domínio colonial francês tinha trazido a São Domingos a opulência, enquanto o neocolonial EUA serviu para perpetuar a pobreza.

Tenho a tendência a pensar que o pacto com o diabo existe, mas que é aquele que desde o início do século XIX ocuparam a Casa Branca e do Palácio do Eliseu. E os banqueiros e empresários ricos e brancos em ambos os lados do Atlântico.

As massas haitianas, acabaram tão empobrecidas que ninguém pode acreditar que isso foi produto meramente da ditadura Duvalier em 1986.(...)

A superpopulação do Haiti,o esgotamento da terra e áreas desmatadas, com setenta e oito por cento de sua população abaixo da linha da pobreza, a produção per capita, que é inferior a US$ 400 por ano, classificado na posição 146 de acordo com o Índice de Desenvolvimento Humano calculado pela Organização das Nações Unidas, é a maldição do país cuja capital foi atingida com o brutal terremoto de 12 de Janeiro de 2010.

Os mortos no terremoto serão elevados, talvez impossível determinar com precisão. As vítimas que sobreviveram serão muito mais elevados. Mas as vítimas de dois séculos de opressão imperial é desconcertante. O panorama de Porto Príncipe é devastado pelo desastre do terremoto. Mas não devemos esquecer a imagem antes da tragédia foi também.

A tragédia causada pelo furacão Katrina em Nova Orleans em 2006, apresentou níveis de angústia mais alto que poderia sofrer o povo humilde de uma cidade do mais influente e poderoso país do planeta. Os sobreviventes do Katrina tiveram de limpar também a sua maldição. Se seguirmos esse precedente, o que se pode esperar dos haitianos vítimas desta catástrofe natural?

Agora temos de nos concentrar em salvar vidas. Onde É urgente para garantir alimentos para as vítimas. E quanto ao resto da população na pobreza, que também não dispõe de meios? É preciso responder a perda de alojamento para aqueles que ficaram sem abrigo. E o destino de centenas de milhares de pessoas que costumam dormir na rua? Quais serão as prioridades a serem reconstruídos?A reconstrução do palácio presidencial dos mais belos e emblemáticos edifícios da capital haitiana, ou dar casas para a população?

De onde é que os recursos sairão para resolver a restauração de Porto Príncipe? (..) E o mundo do capital transnacional? Como é que você faz Carlos Slim, William Gates, Warren Buffet, George Soros, Alvaro Noboa, Elliot Lawrence e outros magnatas? (..) E no Salão Oval, onde agora se senta um Afro-Americano, que faz com que se propague a idéia de que a discriminação foi superada, o que poderia fazer em relação a primeira república independente da América Latina, a única a ter sido forjada por negros e mulatos escravos que optaram por não seguir sendo oprimidos pelos colonizadores franceses?

Haiti: Solidariedade operária e popular com o oprimido povo haitiano


PRONUNCIAMENTO DA FRAÇÃO TROTSKISTA - QUARTA INTERNACIONAL

O terremoto que arrasou o Haiti produziu uma verdadeira catástrofe no país mais pobre do continente. Segundo a ONU, 3 milhões de pessoas, quase um terço dos 10 milhões de habitantes, foram afetadas diretamente, enquanto que o próprio governo haitiano afirma que poderiam ser entre 30.000 e 100.000 mortos. A ONU também alertou que o número de vítimas pode se duplicar como consequência da falta de água e do estado de decomposição dos cadáveres.

Um país ocupado e saqueado

O Haiti está ocupado desde 2004 por ordem dos EUA em acordo com as Nações Unidas, sob uma missão militar liderada pelo Brasil e composta por vários países latino-americanos. Usando o argumento de uma suposta missão humanitária conhecida como Minustah (Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti), as tropas do Brasil, Uruguai, Argentina, Chile, Bolívia, Paraguai e Equador, entre outros, além da polícia de mais de trinta países, mantêm uma ocupação no país para garantir o negócio dos capitalistas enquanto o povo haitiano está mergulhado na pobreza.

As organizações populares do Haiti têm repetidamente denunciado as violações dos direitos humanos cometidas pelas forças de ocupação, que vão desde perseguições e detenções até assassinatos políticos, massacres nos bairros mais pobres da capital e estupro de mulheres e meninas.

A pobreza extrema neste pequeno país é o resultado do saque imperialista e dos planos econômicos monitorados pelo FMI e Banco Mundial, que desde a década de 1980 com a exigência de uma abertura econômica "e uma reestruturação para eliminar as barreiras comerciais” tornaram a dizimada economia haitiana ainda mais dependente. Exemplo disso é que hoje importam mais de 80% de arroz, um alimento básico da população.

Na fronteira com a República Dominicana as empresas multinacionais, com o apoio do governo e sob a proteção da polícia haitiana e da MINUSTAH, transformaram o cinturão industrial da região em um verdadeiro centro de escravatura em que os trabalhadores não têm direitos e as tropas dos governos "progressistas" latino-americanos garantem os lucros dos capitalistas, impedindo os trabalhadores de se organizarem.

Nos últimos anos, a situação do povo haitiano não fez mais que piorar. Sob a ocupação da ONU, enquanto as multinacionais estavam enchendo seus bolsos, os trabalhadores e o povo pobre do Haiti viram como a saúde, educação e infra-estrutura do país está em ruínas, enquanto 80% da população vivem abaixo da linha de pobreza. Isto não é um produto de catástrofe natural, mas uma política orquestrada por empresas transnacionais e pela burguesia, cujo plano é transformar o país em uma “maquiladora” e garantir o roubo de terras, expulsando, como aconteceu nos últimos anos, centenas de milhares de camponeses para as miseráveis favelas urbanas, transformadas em reservatórios de mão de obra barata e semi-escrava, onde a fome é tão extrema que as pessoas comem bolachas de lama para sobreviver.

Uma catástrofe anunciada

Nos primeiros anos após a ocupação, diversas ONGs já tinham denunciado a crise da infra-estrutura, que deixa milhões de haitianos à mercê de catástrofes climáticas. Segundo Camille Chalmers, diretora da Plataforma de Desenvolvimento Alternativo no Haiti -PAPDA, "o povo irmão do Haiti mergulhou em profunda crise, com falta de instalações e serviços básicos para o desenvolvimento da vida humana (...) inundações furacões e tempestades deixaram um saldo de mais de 3.000 mortos, cerca de 300 mil perderam suas casas e vilas inteiras foram isoladas, ficando incomunicáveis, sem comida, água e medicamentos”.

Hoje, o governo do Haiti fala da imprevisibilidade do terremoto e da "impensável" catástrofe para fugir à responsabilidade pelas mortes de centenas de milhares de pessoas que vivendo em condições de insegurança absoluta são um alvo certo de um desastre, como o que abalou o país. A "solidariedade" de Obama, que disse estar seguindo de perto a situação, não é mais do que um gesto cínico imperialista e para demonstrá-lo disse que iria "suspender temporariamente" a deportação de imigrantes "ilegais" do Haiti. Desde a ocupação, em 2004, a dívida externa do Haiti continuou a crescer, e o Banco Mundial e o FMI continuaram cobrando pontualmente seus juros. Nos últimos anos, os países imperialistas, hipocritamente, anunciaram algum tipo de perdão parcial, mas isto não pode esconder que a dívida do país mais pobre do continente aumentou 40 vezes nos últimos anos e saltou de 40 milhões de dólares em 1970 a um bilhão e seiscentos milhões em 2008. Enquanto os governos dos países imperialistas gastam centenas de bilhões de dólares para socorrer os bancos não está em seus planos resgatar da miséria o país mais pobre do continente! Por sua vez, a missão da ONU gasta mais de US$ 600 milhões para garantir a ocupação, que está acima das exportações totais do país.

Tudo isso mostra a responsabilidade, não só do governo do Haiti, mas dos governos latino-americanos que estão por trás das forças de ocupação, e dos países imperialistas que continuam a saquear o país, mesmo diante da situação terrível pela qual passa o povo haitiano. Enquanto isso, em meio a esta situação catastrófica, as Forças Armadas de todos os países que compõem a Minustah – tanto os governos "progressistas" e "nacionalistas" como Lula, Kirchner e Bachelet, Evo Morales e Mujica –, anunciaram, para lavar suas mãos e mascarar os abusos que as suas tropas cometeram como parte da missão da ONU, que os capacetes azuis estão realizando ações de emergência e “humanitária”.

A verdadeira missão do exército de ocupação é reprimir o povo haitiano, como ficou demonstrado pelas declarações de vários presidentes da região ao manifestarem que a sua preocupação é com a "prevenção" de saques e de tumultos. É que estes governos, mesmo em situações de emergência, mostram seu verdadeiro caráter como defensores dos interesses da burguesia. O papel das tropas é controlar a população e militarizar o país, como acontece com o controle dos aeroportos e postos de atendimento médico por parte dos militares dos EUA.

O Haiti não é só miséria: seus gritos libertadores inspiraram a América e o mundo

Como sempre, e para justificar seus planos intervencionistas, os imperialistas e os governos burgueses do mundo utilizam invariavelmente as estatísticas da miséria que eles ajudaram a criar com os seus planos de superexploração e definem o Haiti como um dos países mais pobres do mundo. No entanto, o Haiti não é só isso. Foi um exemplo para o mundo, tornando-se o primeiro Estado independente na América Latina, a partir do estabelecimento de uma república negra, e onde ocorreu uma das únicas rebeliões de escravos exitosa. A rebelião negra de 1791, na qual desempenhou um papel brilhante o grande Toussaint Louverture, foi uma espada na cabeça das potências coloniais que atirou ao mar a aventura colonial do exército de Napoleão famosa na América na então colônia francesa de Saint Dominique . É este exemplo que nos querem fazer esquecer, começando com o não reconhecimento da independência do Haiti pelo presidente dos EUA, Thomas Jefferson, que inicia um longo período de isolamento internacional promovido principalmente pelas potências europeias e pelos Estados Unidos, que não admitiram a existência de uma nação governada por ex-escravos, o que por sua vez significou uma ameaça para os seus próprios sistemas escravistas.

Fora as tropas imperialistas e a Minustah! Por uma grande campanha de solidariedade com o povo do Haiti!

O terremoto no Haiti foi um fenômeno natural que não pôde ser evitado, mas as suas consequências e como lidar com ele, não são. A resposta da ONU para o desastre é uma “divisão militarizada" exigindo manter a ordem e paciência na espera de doações. Isso mostra o papel das forças de ocupação, a repressão aos que foram forçados ao saque em busca de alimentos. Como se a catástrofe não fosse suficiente, o povo do Haiti deve sofrer a vigilância na mira das escopetas da Minustah.

Da mesma forma Aramick Louis, ministro da Saúde, declarou que "bandos armados começaram a tomar o controle das ruas", acrescentando que "a maior preocupação do governo é com um eventual surto de violência", abrindo o caminho para a repressão. Portanto, não será nem as tropas estrangeiras nem o governo servil do Haiti, que é completamente subserviente ao imperialismo e às multinacionais, que darão uma solução para a situação destas pessoas. Apenas os trabalhadores e o povo haitiano podem administrar a assistência sob o seu próprio controle.

Ante esta catástrofe que o povo haitiano vive hoje desde a FT e suas seções na América Latina chamamos a uma grande campanha unitária das organizações dos trabalhadores e das organizações políticas que defendem os interesses do povo para se mobilizar e exigir das multinacionais a entrega e distribuição gratuita e imediata de todos os insumos necessários para enfrentar a catástrofe, como combustíveis, medicamentos, alimentos etc.

Fora já as tropas da Minustah!
Fora ianques do Haiti e de toda América Latina!
Que os lucros dos capitalistas sejam utilizados para enfrentar a catástrofe!
Que as organizações dos trabalhadores controlem os recursos recebidos!
Pelo cancelamento da dívida externa do Haiti!

Haiti, que ajuda?

OMAR RIBEIRO THOMAZ
OTÁVIO CALEGARI JORGE
Fonte: Folha de S Paulo


O TERREMOTO no Haiti, que afetou de forma particularmente arrasadora sua capital, foi há cerca de uma semana. O pouco de um Estado já frágil foi destruído, a missão das Nações Unidas foi incapaz de ir além de resgatar seus próprios mortos e feridos, a ajuda internacional tarda, e o que vemos são haitianos ajudando haitianos.
Entre quarta-feira e sábado, caminhar pelas ruas do centro de Porto Príncipe e de Pétionville era observar o civismo dos haitianos que, muitas vezes, e como nós, sem entender claramente o que havia acontecido, procuravam cuidar dos feridos, resgatar aqueles que ainda estavam vivos sob os escombros, e dispor de seus mortos. O que vimos foi, de um lado, solidariedade, de outro a ausência quase que total e absoluta das forças da ONU e da ajuda internacional.
Por quê? Afinal, a Minustah não estava no Haiti há cerca de seis anos e não dizia estar agindo no sentido de estabilizar o país e reconstruir o Estado haitiano? Quando nos perguntávamos do porquê da demora de disponibilizar comida e remédios já no aeroporto de Porto Príncipe para as centenas de milhares de pessoas que se aglomeravam nos campos de refugiados improvisados por todos os lados, a resposta era que não existiam canais locais capazes de serem mobilizados para a tarefa.
Homens e mulheres que tinham vindo para ajudar, e as coisas que traziam, se aglomeravam num aeroporto controlado por forças militares americanas, como se de uma operação de guerra se tratasse.
Após seis anos no Haiti, aqueles que diziam que estavam ali para reconstruir o país, não tinham entendido nada, ou muito pouca coisa. Quando fomos às praças e campos de futebol transformados em campos de refugiados, eram as "dame sara", mulheres que controlam as redes comerciais existentes no país, que garantiam o acesso dos haitianos a produtos; eram aquelas que cozinham na rua, "chein jambe", que ofereciam galinha, espaguete, arroz, feijão e verduras aos haitianos e haitianas aglomerados; eram caminhões pertencentes a empresários locais que distribuíam água potável. Haitianos ajudando haitianos.
Por que não aproveitar esta energia e estas redes existentes para fazer chegar a ajuda? Por desconhecimento, talvez, ou talvez por duvidar de sua eficácia, ou da possibilidade de uma vítima ser mais do que uma vítima passiva à espera de ajuda.
O desconhecimento, no entanto, é duvidável. Em nossa visita ao batalhão brasileiro da Minustah, horas antes do terremoto, pudemos ver na apresentação do coronel João Bernardes um extremo conhecimento do funcionamento da sociedade haitiana. Infelizmente, a falta de ajuda parece estar mais ligada às disputas internacionais pelo controle do futuro do povo haitiano do que à emergência da situação.
Sim, os haitianos são vítimas, mas estão longe da passividade: pra cima e pra baixo, entre as "dame sara" e o "chein jambe", vimos jovens escoteiros removendo entulho, jovens pedido ajuda com alto-falantes, médicos haitianos dando atendimento aos feridos nas ruas, freira haitianas prestando os primeiros socorros quando possível. Paralelamente, o aparato da Minustah, cerca de 5.500 militares de diferentes nacionalidades, ou estava parado, ou mobilizado na atenção dos próprios quadros da ONU.
Os haitianos ajudam haitianos, a ONU ajuda a ONU.

Culpas internacionais
Duas reações foram recorrentes nos dias que se seguiram aos terremotos. Uma, talvez a mais primária, era a de responsabilizar a natureza. A outra, a de responsabilizar os próprios haitianos pelo caos que sucedeu ao cataclismo. Afinal, foram incapazes de construir um Estado e, por isso, são incapazes de reagir.
Ambas as reações são perversas. Não estamos só diante de um cataclismo natural, mas também de uma catástrofe social. E o desmantelamento do Estado haitiano não é responsabilidade exclusiva dos haitianos, muito pelo contrário. País com pouca margem de manobra no contexto caribenho ao longo das décadas de Guerra Fria, viu as grandes potências apoiarem uma ditadura regressiva e particularmente violenta; concomitantemente, e especialmente a partir do fim dos anos 1970 e ao longo dos anos 1980, o Haiti, como tantos outros países, foi vítima de profissionais engravatados que aplicavam a mesma receita em qualquer lugar: desregulamentação, estado mínimo, livre comércio.
Foram as pressões do FMI e do Banco Mundial que obrigaram o Haiti a desproteger a produção de arroz no início dos anos 1980. O Haiti era, até então, autossuficiente em arroz.
Em pouco tempo não só se viu obrigado a importar este produto, como massas de camponeses foram expulsas do campo para a capital do país, aglomerando-se em habitações precárias, as mesmas que foram abaixo com o terremoto. Tal como ocorreu com o arroz, o cimento também foi afetado. Antes era produzido no país, e desde finais de 1980 foi importado dos EUA, o que obrigou os haitianos a fazerem uso de tijolos pobremente produzidos com areia. Tais tijolos são frágeis e acabam afetando a própria condição das construções. E podemos seguir adiante para demonstrar que o desmantelamento do Estado haitiano foi obra da "comunidade internacional".
Somente uma crítica sistemática ao próprio caráter da ajuda internacional nas últimas décadas poderá ajudar o Haiti a sair de um atoleiro que não foi construído apenas por ele. O que pudemos observar, além da passividade da própria comunidade internacional, capaz de mobilizar mundos e fundos, mas incapaz de conversar com as "dame sara" para imaginar uma saída criativa para a distribuição da ajuda, foi um movimento mais do que preocupante.
Milhares de soldados americanos ocupam, mais uma vez, o país, como se houvesse uma situação de guerra civil, e o Brasil, já imerso há seis anos em toda essa lama, entra no circo das potências que querem "ajudar" o Haiti.
Sem termos presente o fato de que o Haiti é um país soberano, e que os haitianos não são vítimas passivas de catástrofes naturais, dificilmente sairemos do circulo de pobreza e miséria criada pela própria "comunidade internacional", no qual o Brasil ocupa um trágico lugar central.

OMAR RIBEIRO THOMAZ, 44, é professor de antropologia da Unicamp; OTÁVIO CALEGARI JORGE , 21, é estudante de ciências sociais na mesma universidade.

A situação haitiana piora de maneira mais alarmante.

A situação haitiana piora de maneira mais alarmante. Vítimas do terremoto sobrevivem de 4 a 5 dias sem comida e água; a indignação de solidariedade do povo haitiano para auxiliar seus próprios conterrâneos é dispersada pelos agentes da ajuda oficial, que pedem calma para que a sua contribuição ao desastre seja o esforço único, recebida em silêncio. As tropas da ONU já se arrogaram naturalmente o oligopólio da ajuda humanitária: vão aos montes a Porto Príncipe para ajudar os haitianos a entender que eles mesmos não são capazes de se ajudar. Não estão lá como força adjunta, que se combina com o ímpeto das pessoas dispostas a trabalhar na capital. Mesmo na situação do terremoto, o organismo das Nações Unidas demonstra sua intransigência para aceitar um ressurgimento da catástrofe com caráter popular, e não oficialista.
Não há suprimentos alimentares disponíveis para todos, mesmo os trazidos externamente. Com as ruas e estradas locais bloqueadas pelos entulhos e escombros do terremoto, os aviões não conseguem escoar os produtos pelos caminhões da ONU. O que para os governos internacionais é um problema de logística, é para os haitianos ainda lacerados, enfermos ou soterrados um problema de sobrevivência: pessoas morrem nas ruas por ocasião de ossos quebrados, e até sede. Este absurdo é mantido pela conivência da administração internacional da crise (entregue totalmente às Nações Unidas), que pela salvaguarda da “segurança pública” continua protegendo os artigos de consumo privados de mercearias e supermercados através da polícia.
O exemplo criminoso dos resultados dessa linha política de ação ocorreu nesta última sexta-feira, e continuará até que os trabalhadores e o povo pobre haitiano tome nas mãos a condução eficiente de seus esforços: os suprimentos alimentares (que na verdade são barras e biscoitos energéticos em sua maioria), são levados do aeroporto de Porto Príncipe ao epicentro da tragédia através dos caminhões militares da ONU. Dois deles estacionaram ao redor de centenas de haitianos famintos e sedentos por água. Enquanto alguns guardas da brigada entregavam de dentro do caminhão esses artigos, já pobremente nutritivos em si, outros dois guardas ficavam pelo lado de fora do caminhão empurrando para trás e puxando as pessoas, algumas com crianças no colo, sem que sequer tivessem conseguido apanhar a “ajuda”. São afastados do veículo para “assegurar a ordem”.
O procedimento mais provocativo é exercido em seguida: quando a situação da lenta distribuição de alimentos fica conturbada pela razão, mais que justificada, da necessidade imperiosa que deles têm o povo pobre haitiano, os dois caminhões desertam o lugar, e dirigem-se para longe da multidão sem sequer ter atendido a todos, enquanto são perseguidos por haitianos inconformados pela humilhação a que tiveram de se submeter.
Obrigar a ordem quando a primeira necessidade é entregar absolutamente toda a remessa alimentícia da maneira mais rápida possível, e ainda por cima deixar o local sem concluir essa tarefa?!
Nesse ímpeto sujo de querer dominar e subordinar as necessidades mais elementares dos haitianos às taras morais e à defesa de seus interesses durante a operação de resgate, nessa luxúria monstruosa de carregar a situação a seu modo sem comunicar a participação dos próprios haitianos, com a idéia mesquinha de que a população só pode sobreviver pela caridade privada dos países imperialistas, a ONU apenas provoca a fúria da multidão de Porto Príncipe, principalmente por ser negada a esta a apropriação dos bens de consumo já existentes nos depósitos comerciais da capital.
A proteção da propriedade privada contribui ruinosamente com a catástrofe natural do terremoto, e fornece seu próprio golpe de mão na massa desamparada e amarrada. Há crescente polarização entre os haitianos atingidos pela trágica destruição de sua capital e agindo com a população de Porto Príncipe por seus próprios métodos e os sargentos oraculares do imperialismo atando pés e mãos da autodeterminação dos trabalhadores e do povo pobre.
Em meio à abundância, com um aparato de produção que, bem dirigido e organizado, poderia cobrir todas as necessidades atuais da humanidade, o capitalismo se mostra incapaz de suprir as contingências de uma cidade, e condena milhões de homens ao desemprego, a miseráveis prestações sociais e à fome.
Esse é o real caráter do capitalismo “democrático” norte-americano: a ditadura tirânica pelo controle dos destinos dos povos oprimidos, coloniais e semi-coloniais, em qualquer situação, que estrangula a independência das atividades de massas populares por sua própria direção, submetendo-a à burguesia “democrática” internacional. Não somos contrários a todo tipo de ajuda médico-hospitalar e alimentar durante esse momento de inimaginável sofrimento do povo haitiano, mas trata-se justamente disso: não somos contrários a ajudas reais. O auxílio real prestado pelas Nações Unidas, a comando dos EUA, afora as equipes de resgate, é mínimo.
Mais uma vez, a escassez de suprimentos alimentares é gravíssima. Mesmo na urgência pelo saneamento desta situação catastrófica os EUA jogam seu papel como em mais uma etapa até a posição de explorador exclusivo. Em entrevista coletiva à imprensa burguesa norte-americana, os três últimos presidentes estadunidenses, Bill Clinton, George W. Bush e Barack Obama, anunciaram que “entraram em coalizão em solidariedade ao Haiti” (inaugurando o fundo de ajuda Clinton-Bush), acompanhado da afirmação de Obama, “O único recurso natural que os EUA possuem é a coragem e a compaixão”. Talvez nunca um dirigente da pirataria imperialista tenha sido tão honesto: em consequencia, os americanos pilham os recursos naturais das outras regiões do mundo.
E onde se encontram as classes dirigentes capitalistas brasileiras nesse quadro? São o capacho sobre que pisam os homens acima. Poucas vezes na história um país inteiro resumiu através de suas brigadas militares o papel vergonhoso de carro alegórico do imperialismo mundial. As tropas militares da MINUSTAH ainda se encontram em território haitiano; mais militares serão enviados. Acima de todas as atitudes reacionárias do governo brasileiro, esta é até agora insuperável: de acordo com fontes da rádio CBN, o Brasil enviará ao Haiti, por ordem da segurança pública, “armas não-letais”, balas de borracha, pois, segundo a embaixadora brasileira na ONU, Maria Luisa, “nesse momento, o que se precisa é de proteção a todos”.
Balas de borracha! O Brasil carrega nas costas como um servo a reação de seu próprio tirano; humilha-se para não engrandecer os esforços heróicos do povo haitiano. A história recente não apresenta elemento mais mercenário e vergonhosamente subalterno que a burguesia brasileira.
Esses sacos de vento, esses Floriano(s) Peixoto(s), que não podem querer nada, porque não têm vontade própria, porque só desejam o que lhes é ordenado, e que são incapazes de analisar da maneira mais trivial a situação atual do Haiti e questionar o que lhes é gritado de cima – são por ora desacreditados, uma vez que ainda não têm permissão direta de cumprir aquilo que fazem melhor: serem aríetes diretos do povo. O chefe da “missão de paz” da MINUSTAH, sr. Floriano Peixoto Vieira Neto, carrega as ordens da Corte Suprema de Washington pedindo humildemente para participar da operação de segurança.

“Preferira ser uma pulga em uma ovelha,
Do que tão valente ignorância”

Além do batalhão da octogésima-segunda divisão aérea norte-americana com 700 tropas, os três navios cargueiros trazendo mais de 3,200 fuzileiros navais da costa leste, e 19 helicópteros, todos a chegar ao Haiti nos próximos dias, o patrulhamento da capital receberá a ajuda complementar dos reforços brasileiros, além dos membros da MINUSTAH já instalados. Aí está finalmente o tipo de “ajuda” que os dirigentes burgueses fornecem sem qualquer parcimônia.
Os povo haitiano precisa do envio de equipes de resgate, corpos de bombeiro, equipamentos e utensílios médicos, juntamente com a equipe preparada para tanto, e não da afluência de soldados dos quatro cantos do mundo. Queremos aqui fazer uma denúncia aberta ao reitor Fernando Costa da Unicamp, por ter a política de, ao invés de enviar equipes médicas e utensílios hospitalares ao Haiti para acudir a sua recuperação, enviar um helicóptero da universidade para fazer retornar ao Brasil os estudantes que foram para lá em atividade de campo, que cumprem o papel importante de corresponderem-se conosco diretamente in locu, e que estão agora abrigados na embaixada brasileira. As atividades, no mínimo, não são excludentes; entretanto, a direção da universidade só se presta à segunda tarefa. Isso só reforça a certeza de que para o reitor da Unicamp, a universidade não tem nada que ver com problemas extra-acadêmicos.
O capitalismo mais uma vez se mostra completamente incapaz a prosperidade das massas trabalhadoras e do povo explorado por seu regime e, sobretudo, de assegurar a paz. A sua reserva de direitos humanitários significa a proteção uniforme dos direitos imperialistas do colosso yanqui de dominar os países da América e do Caribe, condenando-os à espera da ajuda de seus punhos de aço recoberta pelas luvas das pretensões demagógicas de amizade e “democracia”.
Nós do Centro Acadêmico de Ciências Humanas da Unicamp reforçamos toda a nossa solidariedade ao povo haitiano que padece mais essas dores e humilhações adicionais pela tirania do capital internacional. Nosso grito é: retirada imediata e incondicional das tropas da MINUSTAH do Haiti! Repudiamos absolutamente a política grosseira do governo brasileiro de enviar balas de borracha e demais artefatos bélicos para auxiliar a repressão! Que os haitianos se apropriem dos artigos de consumo disponíveis em seu país que ademais só podem resultar frutos de seu trabalho durante a escravidão moderna!
Convocamos novamente todos os sindicatos, centrais sindicais, organizações estudantis, o MST e demais organizações de esquerda a uma frente única de combate contra a repressão do povo haitiano pelos governos internacionais, capitaneada pelo reacionário governo de Lula.

André, estudante de Ciências Sociais da Unicamp.

Enquanto um garoto, a um centro da capital onde se situa o palácio presidencial,

Enquanto um garoto, a um centro da capital onde se situa o palácio presidencial, esperava apreensivo receber seu plástico de água (ela é distribuída em sacos plásticos) de dois soldados com seus cascos azuis, anunciando-se “milícias da paz” da ONU, do outro lado da cidade, nos bairros pobres da capital, incluindo o mais pobre deles, o Cité Soleil, crianças levantavam suas mãos para o alto em sinal de estupor: a polícia haitiana, cúmplice dos planos oriundos de cada dólar dentre os milhões que Washington envia e que estão estacionados na fronteira do país, abriu fogo contra a população pobre.
Centenas de policiais, carregando coletes amarelo-luminescente e máscaras contra a poeira residual da destruição de dias atrás, assaltaram as ruas em corrida, perseguindo aquilo que daqui em diante ficará conhecido nos meios burgueses oficiais como os “saqueadores de Porto Príncipe”, e que em realidade se conhece como os haitianos compreendendo suas necessidades comuns, e lutando para se apropriar dos artigos de consumo já existentes nas lojas da capital.
Oficiais de polícia armados com poderosas escopetas, cobrindo uns aos outros, alvejavam selvagemente os prédios em que os “saqueadores” alegadamente se ocultavam; nas ruas esburacadas, camionetes da polícia local, tripuladas por três e quatro recrutas, saltavam e atiravam à queima-roupa os transeuntes desses bairros, gritando para se afastarem das mercearias e supermercados, já insuficientes de per si, mas com a espírito de que “deve-se cortar a tendência pela raiz”. Os residentes que se agrupavam nas calçadas, alguns em suas frágeis barracas, eram obrigados a levantar os braços e sair ao caminho das guardas em movimento frenético para, antes de perseguir seus alegados alvos, assustar e paralisar aqueles que assistiam a elas.
Os resultados são sangrentos: dois homens foram baleados na cabeça e deixados para morrer na praça principal em Delmas, aos olhos dos passantes; em Pétionville, um homem foi queimado por um “grupo” que afirmara que se tratava de um “saqueador”. Por ocasião do pavor instaurado pela gendarmeria na capital, alguns contingentes residentes de Porto Príncipe começaram a deixar a capital em busca de cidades circunvizinhas.
Enquanto isso, o lugar-tenente geral P. K. Keen, deputado comandante do Comando Sulista dos Estados Unidos, que está supervisionando a assistência militar, disse que “tiveram um bom dia ontem”, referindo-se ao seu exame da presença de 1,000 agentes militares em ação na capital e os adicionais 3,000 que esperam adentrar o país, aguardando sobre navios cargueiros na costa. Defendeu que os soldados americanos estão “balanceando da melhor maneira possível suas tarefas de segurança e a urgência na entrega rápida de suprimentos”. É preciso iluminar o centro da posição desse senhor, e

“Desde que tu não te podes enxergar a ti mesmo,
Tão bem como por reflexo, eu, teu espelho,
Descobrirei modestamente a ti,
Aquilo de ti que tu ainda não sabes”

O contingente armado dos EUA no Haiti atingirá, até segunda-feira, a cifra de 10,000 soldados; a isso soma-se as diversas repartições latino-americanas do “Ministério das colônias” representado pela MINUSTAH, capitaneado pelo bárbaro exército brasileiro de Lula e de Nelson Jobim – que já determinaram enviar balas de borracha para o país avassalado pelo terremoto sísmico e pelo terremoto colonialista. Essa coalizão, fachada da política do imperialismo norte-americano, aumentará necessariamente a resistência armada do povo haitiano, o qual continuará a explorar, depois como antes – como mostra por seus modos recentes – de maneira mais intensificada. Esta resistência, por sua vez, encontrará a reação mais feroz por parte dos EUA, que tentará suprimi-la sob as mais diversas roupagens – como no caso de hoje, em que a polícia haitiana deu provas de seu servilismo incondicional às designações da política de “segurança” do Pentágono – e se revelará mais claramente ainda como o gendarme central da exploração imperialista estrangeira e como o escorador das ditaduras nativas. Deste modo, Washington-Wall Street segue sendo o amo predominante e agressivo da América do Sul e do Caribe, pronto para defender esta posição por meio das armas contra todo assalto sério de seus rivais imperialistas ou todo rechaço sério pelos oprimidos colonizados da América Latina para se libertar da dominação de seu explorador.
Com a restrição opressora à auto-defesa e auto-determinação do povo haitiano em resgate de sua próprias forças, estabelecendo a exclusividade dos esforços de ajuda humanitária ao órgão da ONU, ajuda tão ambígua e feita a meia-medida, a intervenção imperialista do salvacionismo norte-americano não elimina nem modera o sofrimento da população de Porto Príncipe: pelo contrário, na afirmação de sua autoridade, agrava os conflitos dos haitianos entre si e suas atribulações. A reivindicação “pacifista” vem acompanhada de massiva inversão de capitais nas divisões de defesa da “segurança pública”; leia-se: da segurança pública do capital de Wall Street.
Os carrascos do filisteísmo jornalístico da agência Reuters, Joseph Guyler Delva e Tom Brown, anunciaram que a pacificação do bairro Cité Soleil foi “uma das maiores vitórias do presidente René Préval desde que assumiu o cargo em 2006” (Dom, 17/1). Como se não bastasse, esparramam seu conteúdo: “Os líderes das gangues de Cité Soleil são criminosos perigosos, que servem de inspiração para lendas urbanas e populares músicas rap haitianas”. Entrevistando dois policiais haitianos cobrindo a área da favela, são informados que gangues sangrentas famosas voltaram a marcar presença no seu antigo bastião, aproveitando a situação para pilhar os habitantes. Não é acidental que os dois contistas pediram para não serem identificados, por não serem autorizados a falar sobre a volátil situação em Cité Soleil. As bandas “pacificadoras” armadas, sob direção da ONU, são as maiores responsáveis pelos índices de pobreza da região, e os verdadeiros agravantes entre conflitos intestinos em meio da população pobre, desesperada pela aguda escassez de suprimentos.
O comandante da polícia nacional do Haiti, Mario Andresol, mostrando como o costume nutre o hábito no homem, disse dos alegados “criminosos” que fugiram da penitenciária: “Minha mensagem a todos esses bandidos armados que estão se aproveitar da situação é que vamos prendê-los como fizemos antes; estamos trabalhando para tomar as medidas apropriadas para combater esses criminosos", acrescentou.
Por sua vez, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, continuou a salmodiar seus versos favoritos na frente de uma multidão de haitianos: “A ajuda está a caminho”. Nunca se ouviu produto tão alto da voz, por parte de um coração tão vazio: mas o ditado é correto, 'o navio vazio racha com o maior estalido'.
A situação real da incapacidade do influxo de suprimentos é patente: o aeroporto de Porto Príncipe está saturado de aviões internacionais e o governo haitiano oficialmente parou de receber vôos desde quinta-feira, pois a maioria dos aviões estacionados na rampa de acesso abarrotaram a via de pouso. Como a torre de controle caiu durante o terremoto, é muito difícil que os aviões se coordenem a si mesmos. Resultado: a ajuda internacional, em grande parte, foi abortada por enquanto, a não ser pela participação de helicópteros de resgate. Os EUA afirmaram que enquanto essa situação não estiver resolvida, não enviarão mais vôos para lá. Desde sexta-feira os suprimentos muito necessários estão presos em aviões, navios cargueiros e demais containeres, sem chegar ao centro da cidade. Os poucos insumos que alcançam a capital, são pobremente distribuídos e armazenados nos galpões da ONU, os quais são cercados frequentemente por moradores indignados com a delonga da ajuda.
Além: alguma ordem, não se publicou de quem, obrigou vários médicos, no sábado à noite, a deixarem de atender os pacientes nas tendas e "procurar um local seguro". Pior: os médicos têm de levar consigo os suprimentos hospitalares, enquanto os pacientes ficam à mercê das intempéries, esperando a noite toda por triagem e exame. É uma situação revoltante.
Assim, a amplitude dos problemas do imperialismo norte-americano, o alcance mundial de seus interesses e dos fundamentos de seu poderio ditam-lhe uma política de expansão sem trégua, mesmo durante as catástrofes naturais. Constitui o freio mais sólido sobre o movimento de libertação das colônias e semi-colônias. A luta dos trabalhadores haitianos por seu próprio reerguimento deve preservar sua total independência organizativa e política frente aos governos demagogos incapazes de entender as necessidades da população atingida pelo terremoto, reservando-se e exercendo o direito de organizar o povo haitiano num esforço uníssono para a real ajuda humanitária de seus conterrâneos. Nesse processo, deve-se contrapor o afluxo das forças militares que operam como instrumento da opressão imperialista, de forma diplomática ou econômica, destinadas a violar a independência nacional do país e impedir-lhe alcançá-la.
Nossa campanha a partir do Centro Acadêmico de Ciências Humanas da Unicamp permanece ofensiva no sentido do combate para que os haitianos tenham acesso e controle dos artigos de consumo já presentes no país, na forma de propriedade privada de comerciantes e merceeiros, e donos de supermercado. Rechaçamos veementemente as calúnias sobre pilhagens e saques pelos senhores empedernidos da pirataria internacional. A auto-ajuda tem de ser elemento da ajuda geral fornecida por equipamentos hospitalares, engenheiros, corpos de bombeiros, equipes de resgate e hospitais móveis. O oficialismo que isola os esforços da população deve ser denunciado.
Uma situação preocupante para o sofrido povo haitiano é veiculada hoje (domingo, 17/1). O Haiti é residência de aproximadamente 380,000 órfãos, de acordo com a Fundação da Criança das Nações Unidas, e esse número aumentará com a atualização mais exata dos dados após o terremoto de terça-feira. Ao redor de 300 crianças, entre órfãos e desamparados, serão expedidos para fora do país em programas de adoção pelos EUA e pela Holanda, esforços coordenados que eventualmente trarão as crianças de volta ao país quando a situação se abrandar. Por mais alentador que possa ser a retirada dessas crianças do Haiti durante essa situação terrível para a população, não é impossível que o giro para retirar as crianças de lá pode representar o sinal verde para a repressão mais sólida aos trabalhadores adultos haitianos por parte da combinação das milícias internacionais.
Nós, do CACH da Unicamp, reiteramos a exigência da retirada imediata e incondicional das tropas da MINUSTAH do Haiti, e que o dinheiro utilizado para a manutenção das tropas da ONU (US$ 600 milhões) seja revertido em ajuda financeira direta ao país, sob controle das organizações de trabalhadores e do povo haitiano. Exigimos o fim imediato ao envio de brigadas militares adicionais e o cancelamento da dívida externa haitiana para com todas as potências imperialistas! Nenhuma repressão policial ao povo pobre e aos trabalhadores de Cité Soleil e da capital Porto Príncipe!
Exigimos a quebra do silêncio por parte da academia e dos docentes da Unicamp, e que o reitor Fernando Costa envie a ajuda médico-hospitalar necessária ao país que ajudou a inundar de tropas.

André, estudante de Ciências Sociais da Unicamp.