segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

“Com armas de fogo não se levantam escombros, com armas de fogo se mata gente”


sábado, 6 de fevereiro de 2010
O Pão e Rosas entrevistou Mirla Hernández, feminista dominicana que esteve em Porto Príncipe, capital do Haiti.




(República Dominicana, 04 de fevereiro de 2010) Falamos em São Domingos com a dominicana Mirla Hernández, quem se apresenta como feminista lesbiana autônoma e de esquerda. O encontro foi a poucos dias de sua volta de Porto Príncipe, a capital devastada do Haiti. “A sensação mais forte que ficou de ver essa situação foi a raiva, pelas mentiras que se apresentam nos grandes meios de comunicação sobre como estão reagindo os haitianos. A cidade está destruída, a maioria dos edifícios caíram no chão, tem muita gente na rua; mas não é verdade o que se diz de que as pessoas estão armadas e que estão matando e roubando a comida de outras pessoas. O povo haitiano é muito digno, é muito forte. Se existe um povo que sabe resistir esse é o povo haitiano”.


Em seguida nos diz, olhando para a câmera, “e isto é uma denúncia: Porto Príncipe está cheio de marines e obviamente que não é com o sentido de resgatar ninguém nem ajudar ninguém... estão aqui para ‘previnir’, sengundo eles, insurreições ou mobilizações”. Mirla faz um gesto de aspas com seus dedos quando pronuncia a palavra “prevenir”. Indignada, depois de ter visto as verdadeiras necessidades que estão passando o povo haitiano, Mirla disse: “mais do que marines, o que necessitam são pessoas para o resgate, gente que venha com equipamentos para levantar escombros; com armas de fogo não se levantam escombros, com armas de fogo se mata gente”.


Quando a perguntamos sobre a situação no Haiti, antes da tragédia, nos conta: “As denúncias que eu vi e escutei no Haiti sobre a MINUSTAH antes do terremoto, são denúncias de estupros de mulheres, de roubos e assassinatos. Eu vi membros da MINUSTAH, em 2008, paquerando e tocando meninas de 13 e 14 anos”. Sobre a situação das mulheres, explana: “Migram para esta parte da ilha – referindo-se à República Dominicana – e fazem o trabalho doméstico, trabalho de colheita nas fazendas de tomate, café, banana, nos campos de cana... e agora vai ser muito pior. Neste momento, todas as mulheres que estavam grávidas e estão tendo abortos espontâneos ou partos prematuros estão nas piores condições”. Também sabe que os estupros e a violência contra as mulheres aumentarão nesta catástrofe.


Quer deixar uma mensagem aos povos da América Latina e do Caribe que sentem profunda dor pelo Haiti: “Eu não vou dizer que mandem dinheiro nem que mandem coisas. É importante colocar as mãos, o ombro e todo o corpo a serviço do Haiti, mas lembrando uma coisa: nós não vamos resolver a vida dos haitianos. Os haitianos têm a força suficiente para retomar seu país. Necessitam de nossa ajuda, necessitam de nossa colaboração; mas não com uma política assistencialista, não somos nós quem vamos tomar o Haiti. Então quero chamar muito a atenção de que é preciso ter muito cuidado com o que está fazendo o governo dos Estados Unidos; há uma intencionalidade de invasão do Haiti, de apropriação do Haiti. É preciso estar muito atento para isso e não permitir essa invasão, é preciso denunciá-la, é preciso unir forças para não permitir isso ou pelo menos para dar este apoio ao povo haitiano, eles são os protagonistas de seu destino. É preciso respeitar a autonomia do povo haitiano”.


Mirla, junto a dezenas de feministas e mulheres de quatorze países da América Latina e do Caribe, assinaram a declaração unitária impulsionada pelo Pão e Rosas e outras companheiras feministas autônomas em todo o continente.


Se junte você também à nossa campanha enviando sua adesão e pedindo mais assinaturas para que se ouçam a voz enérgica de milhares de mulheres da América Latina e do Caribe em solidariedade com nossas irmãs e o povo pobre e trabalhador do Haiti!




Pão e Rosas
LER-QI e Independentes
http://nucleopaoero sas.blogspot. com/

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