sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Somos as negras do Haiti | Fora as tropas brasileiras de Lula! Fora as tropas da ONU e dos Estados Unidos!


Boletim Especial Calourada 2010
Fora as tropas brasileiras de Lula!
Fora as tropas da ONU e dos Estados Unidos!

O Haiti, um dos países mais miseráveis do mundo, atualmente é cenário de uma grande tragédia causada por um forte terremoto que atingiu o local com conseqüências catastróficas. O envio de soldados pelo Brasil e EUA é apresentado como uma suposta “ajuda humanitária”, porém, nós do grupo de mulheres Pão e Rosas, iniciamos no ano passado uma campanha chamada Somos as negras do Haiti, denunciando o verdadeiro papel das tropas da ONU, comandadas há quase seis anos pelo exército brasileiro de Lula. Passado um mês do terremoto, reafirmamos a necessidade de colocar de pé uma ampla campanha pela retirada imediata de todas as tropas presentes no Haiti, que têm significado cada vez mais repressão ao povo haitiano.

Muito se fala sobre a miséria neste país, porém, pouco é questionado a respeito de suas origens. Alguns, respaldados pela mídia, atribuem a situação do Haiti à incapacidade dos haitianos de se organizarem, colocando-os como um povo atrasado e selvagem. Mas ao buscarmos os aspectos históricos do Haiti encontraremos uma colônia francesa, escravista e explorada, a qual rendia grandes lucros à metrópole com sua larga produção de açúcar. Colônia esta, a primeira da América Latina, em 1804, a se tornar independente por meio do triunfo de uma revolução dos negros escravizados, abolindo a escravidão e estabelecendo uma república negra. Uma grande história de luta capaz de aterrorizar as nações escravocratas que passaram a temer acontecimentos semelhantes. Ao contrário do que nos faz crer a mídia, os haitianos lutaram, se organizaram e derrotaram exércitos poderosos desafiando as grandes potências da época e, justamente por isso, para que seu valioso exemplo não fosse seguido pelos demais povos explorados, sua história foi silenciada e seu grito de libertação, sufocado!

Mas o povo haitiano não se calou. Diante de tais condições desumanas de vida, organizaram diversos protestos que se intensificaram ao longo dos anos. Isto fez com que os EUA e, logo em seguida a ONU, enviassem tropas militares ao país supostamente a fim de manter a ordem “democrática” e garantir os direitos humanos. Sob este pretexto, as tropas armadas da ONU, lideradas pelo Brasil, em operação denominada MINUSTAH, seguem reprimindo, assassinando manifestantes e cometendo abusos grotescos contra a população haitiana. Afinal, sua real missão não é “de paz”, como é chamada, mas sim, cumpre a suja missão de ocupar o país, controlar uma população que vive sob condições miseráveis e, desse modo, garantir a continuação da exploração imperialista.

Sob este clima de opressão e violência vivem as mulheres haitianas, as maiores vítimas dessa ocupação. Condenadas pela pobreza e pela falta de recursos, na maioria das vezes chefes de família, chegam a fazer bolachas de barro para alimentar a si e a seus filhos. Submetidas às mais perversas violências, elas perdem seus maridos e filhos assassinados pelas tropas, quando não são elas mesmas assassinadas, além de violentadas sexualmente muitas vezes pelos próprios soldados da dita “missão de paz”, havendo inúmeras denúncias a respeito de violência sexual contra mulheres e crianças, somando, em 2006, conforme dados recentes, 35 mil mulheres e crianças, em idade entre 3 a 65 anos, violadas em dois anos. Além disso, há denúncias de redes de tráfico de mulheres e crianças e prostituição forçada em troca de moradia e alimentos. Amparadas pela impunidade por serem estrangeiras, as “forças humanitárias” seguem seus abusos sem serem punidas, acobertadas pela mídia que se omite ante os fatos, e pela própria ONU, apesar das várias denúncias de violação contra os direitos humanos.

Diante de tanto abuso e impunidade, é um crime permanecermos calados, assistindo em silêncio o massacre e o esquecimento de um povo, permitindo dessa forma que seus algozes saiam como heróis! Enquanto agrupação de mulheres, nós do Pão e Rosas, viemos não apenas declarar nossa solidariedade ao povo haitiano, mas também denunciar em alto e bom som o papel do imperialismo e das tropas, divulgar a realidade da Haiti, de suas mulheres e mostrar o processo histórico que forjou a atual situação de extrema pobreza no país.

Por tudo isso, nós do Pão e Rosas lançamos uma declaração internacional de mulheres e feministas exigindo a retirada das tropas e que os recursos recebidos sejam controlados pelas organizações operárias, populares, de mulheres, etc. A declaração já recebeu cerca de 200 adesões de 14 países da América Latina e Caribe, de agrupações e ativistas. Há poucos dias, nossa companheira Sofia Yáñez, enviada especial do Pan y Rosas México, chegou ao Haiti reafirmando: “Continuemos levantando a voz, porque as tropas têm que ir embora".

Em alguns dias, as mulheres sairão às ruas em referência ao 8 de março, Dia Internacional da Mulher. Fazemos um chamado às organizações do movimento de mulheres, feministas, às organizações da esquerda e do movimento negro a fazer desse 8 de março um dia para sair às ruas em defesa das mulheres haitianas, dizendo em alto e bom som: Basta de violência contra as mulheres e o povo haitiano! Pela retirada imediata de todas as tropas! Fora as tropas de Lula! Fora as tropas da ONU e dos EUA!

PÃO E ROSAS NO HAITI e na Mídia: Crônicas de um país com cheiro de morte

PÃO E ROSAS NO HAITI e na Mídia: Crônicas de um país com cheiro de morte

Como parte da campanha que o Pão e Rosas vem desenvolvendo em diferentes países da América Latina e Caribe em solidariedade às mulheres e ao povo pobre e trabalhador do Haiti, Sofía Yañez do Pan y Rosas México, viajou à ilha caribenha com a colaboração do Pão e Rosas da Argentina, Brasil, Chile e Bolívia.
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Esta reportagem foi também publicada em pela agência CIMAC, com o título "Destacado papel das mulheres nos acampamentos haitianos".

Por SOFÍA YAÑES, enviada especial do Pan y Rosas- México
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A pouco mais de um mês do terremoto que sacudiu o Haiti, as deploráveis condições de vida das quais padecem os habitantes de Leogane não deixam dúvidas de que as penúrias aqui vêm de muito antes do dia 12 de Janeiro. Tudo o que foi dito ou escrito fica pequeno diante da impressionante realidade.

Na visita que fizemos junto a uma brigada médica em comunidades como a de Petit Rivière, se observa que a maioria da população são mulheres que chegam com seus filhos e filhas nos braços em busca de consulta médica, muitas delas com infecções vaginais e problemas gastrointestinais de seus filhos, devido à má qualidade da água e contaminação ambiental.
Aqui existem vários acampamentos dos que se consideram “pequenos”, reúnem cerca de sessenta famílias, e são organizados pelos próprios habitantes, onde a ajuda oficial simplesmente não chegou. Neles também o papel das mulheres é importante.

Joseph e Guetty, dirigentes locais, pertencentes à organização Grupo Ecológico pelo Desenvolvimento Sustentável do Haiti (Groupe Ecologique pour le Developement Durable en Haiti - GEDDH), falaram do descontentamento que existe com o governo pela falta de agilidade na ajuda. Não há escolas e as meninas e meninos que estudam devem viajar quatro horas até a mais próxima. Também não há hospitais. Em outra brigada, dirigida a três orfanatos para a divisão de fraldas e alimentos para bebês, pode-se constatar que, ainda que a ajuda quase não tenha chegado e as necessidades sejam muitas, a distribuição é absolutamente ordenada, pois quem a garante é a própria comunidade. Os voluntários participantes desta ação asseguram que decidiram fazê-la sem militares, pois eles “espantam a população com suas armas e tanques”. Isto, sem dúvida, é a clara demonstração de que os supostos distúrbios nas entregas da ajuda são causados justamente pela presença militar.

Em todo lugar se vê a miséria acompanhada da destruição que o terremoto provocou. Pessoas vivendo literalmente nas ruas, improvisando casas nos lugares mais insalubres. Um mercado que se instala temporariamente em um prédio que parece ter sido um depósito de lixo, se converteu em um dos poucos lugares onde a população pode encontrar comida e, ao mesmo tempo, se transformou em um lar para as mulheres grávidas.

Descontentamento com a presença militar

Em Puerto Príncipe só estivemos por algumas horas. Aqui toda a cidade cheira mal. Entre a sujeira, os escombros que estão sobre as ruas e o chamado “odor da morte”, a cidade se movimenta como se fosse possível a “normalidade”.
Os maiores acampamentos que se encontram aqui são também os mais vigiados pelos militares. Se diz que, de conjunto, mais de um milhão de pessoas estão vivendo em barracas em todo Haiti, em ruas e parques... Quase não há lojas pois estão destruídas e as poucas que se mantêm em pé estiveram fechadas em função dos dias de luto. Nas ruas, em muros semi-derrubados, se vê pichações eleitorais e de protesto, mas dizem que elas já existiam antes do terremoto. Muitas contra Aristide e algumas contra Preval.
O constante fluxo de caminhões, jeeps e tanques militares complementam o panorama que se assemelha ao pós-guerra. Nas ruas, até os soldados que organizam o trânsito estão armados e muitos deles fazem tudo sem tirar o dedo do gatilho.

Ainda que não tenha tido nenhum relato de grandes mobilizações de protesto ao chegarmos a um mês do terremoto, o descontentamento com a presença militar é generalizado. Isto é, sem dúvida, o que motiva as exageradas ações de controle por parte do governo e dos exércitos estrangeiros, situação que nos próximos dias poderia gerar novos levantes populares de um povo que historicamente se caracteriza pela luta incansável por seus direitos.
*Traduzido por Bruna Bastos

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

A Máscara Caiu... Identifique- se!




Publicado no Jornal PUCViva nº728 de 22/02/2010

Felipe Campos

Na primeira quinta-feira do ano letivo (11/02), o reitor Dirceu de Mello promoveu no Tucarena uma aula inaugural no período matutino e noturno para falar de "Juventude e Política". Bom, eles puderam falar... A juventude não!

Uma 1ª semana diferente para uma universidade que está diferente. Talvez por ter início uma semana antes do Carnaval, a PUC-SP estava ainda em um clima de férias e festa. Claro, com exceção dos trabalhadores terceirizados, que não sentiam esse clima, pelo contrário, muitos deles trabalharam também nesse feriado popular em jornadas extenuantes para ganhar a miséria de sempre, sendo que seus filhos e filhas poucas condições têm em estudar na universidade em que os pais trabalham.


Mas, voltando ao "clima" da PUC-SP, nos corredores do Prédio Velho entre alguns estudantes veteranos e professores, independente da posição política, o que se ouvia quase como consenso é que "a PUC-SP não é mais a mesma!". Todos se perguntavam: onde está aquela efervescência intelectual e política que sempre foi característica da universidade? Será que nós mesmos somos culpados disso? Se formos responder essas questões com o mínimo de reflexão iremos perceber que o problema está "mais em cima". Mais exatamente entre o "céu" clerical da Fundasp e a Reitoria!


Em sua aula inaugural para os calouros, o reitor Dirceu de Mello convidou dois políticos da ordem, que segundo as palavras do pró-reitor Hélio Deliberador, representavam todos os professores da casa. Então, os professores andam muito mal representados. Gabriel Chalita (PSB) e José E. Cardozo (PT), políticos da base governista, cujos partidos ano passado defenderam Sarney e todos os senadores corruptos do Congresso, legitimando e tentando salvar uma instituição de caráter antipopular onde se concentram oligarquias que detém o poder político do país a séculos desferindo ataques a toda a população, foram discursar sobre "Juventude e Política" para os novos estudantes (imagine o quanto eles têm a ensinar). Entretanto, o pior ainda estava por vir com direito a cair de vez a máscara da demagogia do atual reitor da Pontifícia.


Nessa mesma noite, dezenas de estudantes foram até a palestra, também para questionar Cardoso sobre a sua defesa, junto a Lula e seu partido, pela manutenção das Tropas Brasileiras no Haiti (sendo que até mesmo o mentor da pedagogia "Paz e Amor", Chalita, palestrante do período matutino, está em um partido que também defende as tropas militares que atuam sem paz e sem amor contra a população haitiana). Os estudantes levaram cartazes, faixas dentro de uma manifestação pacífica num ambiente de tradição democrática e de diálogo, em que sua própria arquitetura remete a isso. Porém, quando reivindicaram depois da apresentação dos convidados, uma fala em solidariedade ao povo haitiano, o reitor Dirceu de Mello ferozmente levantou, dirigiu-se aos estudantes e começou a tentar uma intimidação perguntando e gritando: "Quem está falando? Quem está falando? Identifique- se!"


Os estudantes levantaram, pediram novamente o direito a uma fala, mais do que justo numa palestra onde se discute "Juventude e Política". Mas a resposta de Dirceu foi firme e objetiva, relembrando o verdadeiro Dirceu das câmeras e catracas de 2004 e não o falso Dirceu do diálogo e da democracia de 2009: "Isso aqui não é debate é uma aula!". Ou seja, não existe diálogo, aluno não pode refletir, divergir, fazer política, apenas respeitar sua condição de aluno. Não à toa Deliberador citou Hannah Arendt no início da apresentação, teórica que defendia que o movimento estudantil norte-americano não poderia apoiar os negros que sofriam racismo nos EUA, pois estariam saindo da sua esfera de atuação na sociedade.


Talvez esse fato mostre alguns elementos para podermos pensar sobre aquelas perguntas do início do artigo. E reforce que nós, estudantes, professores e funcionários, que não nos sentimos representados por esses que dizem que nos representam, que dizem ser eleitos pelo nosso voto, comecemos a contestar permanentemente e recriar a vida política, cultural e artística dessa universidade. Os estudantes que lá foram protestar queriam dizer que o povo haitiano não precisa de tropas imperialistas e brasileiras armadas até os dentes que servem para a repressão política e social. Eles precisam de médicos, enfermeiros, alimentos e remédios nas mãos deles, não de soldados. Porém, a Reitoria da universidade prefere dar voz aos que querem a militarização do Haiti, os que fecham o aeroporto e impedem a chegada de alimentos para a população, e não aos estudantes da casa que questionam esse tipo de ideologia.


Felipe Campos é estudante de Ciências Sociais e militante do Movimento a Plenos Pulmões (LER-QI e independentes)

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010








DIA 25/02, 18H

ATO em frente ao
consulado haitiano
Av. Paulista, 1499

...E no domingo, dia 28/02

às 14h, Ato-debate com

. Prof. Dr. Adilson José Gonçalves
(Comitê Pró-Haiti)

Mara Onijá
(Pão e Rosas e LER-QI)

. Milton Barbosa
(MNU - Movimento Negro Unificado)

. Prof. Dr. Omar Ribeiro Thomaz
(Professor da Unicamp que estava
no Haiti no dia do terremoto)

. Otávio Calegari
(PSTU, estudante da Unicamp que
estava no Haiti no dia do terremoto)

. Pablito (Trabalhador da USP e dirigente da LER-QI)

às 18h, Jornada cultural com

Ballet Afro Koteban

Conde Favela

Mara Onijá

QI Alforria

Zinho Trindade

na Casa Socialista Karl Marx
Praça Américo Jacomino, 49
em frente ao metrô Vila Madalena

Contribua na entrada com
R$ 5,00 para enviar ao Haiti.

Organização:
LER-QI, APP e Pão e Rosas

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Participe das outras atividades da campanha!!!

Dia 24/02, 19h30
Debate sobre o Haiti com:
Lúcia Skromov (Comitê Pró Haiti)
Mara Onijá (Pão e Rosas/LER-QI)
Reina Lucia (Movimento Negro Unificado)
Zé Maria (PSTU)
Local: Auditório da Fafil (Pinicão)
Fundação Santo André

Dia 25/02, 11h
Debate sobre o Haiti com:
Mara Onijá (Pão e Rosas e LER-QI)
Outros convidados a confirmar
Local:
Prédio das letras USP

Dia 27/02, 17h
Festival de Bandas pela retirada das tropas brasileiras do Haiti
Local: Casa Socialista do ABC
Av. Príncipe de Gales, 527 -
Santo André

Dia 26/02, 14h
Debate sobre Haiti com:
Mara Onijá (Pão e Rosas e LER-QI)
Otavio Calegari (militante do PSTU e estudantes da Unicamp que esteve no Haiti) - a confirmar
Local:
Unesp - campus São José do Rio Preto

Dia 02/03, 19h
Debate sobre o Haiti com:
Mara Onijá (Pão e Rosas e LER-QI)
Erson (APROPUC)
Representante da Conlutas - a confirmar
Local:
PUC-SP

Dia 03/03, 16h
Ato convocado pelo comitê de Solidariedade ao Haiti de Campinas.
Local: Catedral -
Campinas

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Um mês do terremoto no Haiti: o grupo de mulheres Pão e Rosas não se esquece!

Na última semana, nós do Pão e Rosas saímos às ruas para deixar nas paredes de Santo André, Campinas e Araraquara nossos cartazes em solidariedade às mulheres e ao povo haitiano. Na sexta feira, dia 12/02, completou-se um mês do terremoto no Haiti, uma catástrofe natural com conseqüências ainda mais brutais pelo fato de ser o Haiti uma semicolônia há séculos oprimida por países como França e Estados Unidos.

Mara Onijá, do Pão e Rosas ABC, declarou que "esses cartazes têm por objetivo alertar os trabalhadores e a população do ABC de que as tropas brasileiras, que estão no Haiti há quase seis anos, ao contrário de ajudar o povo haitiano, comprem o papel de reprimir e garantir a ´ordem´ desejada pelo imperialismo".

Rita Frau, do Pão e Rosas Campinas, lembrou que "a campanha Somos as negras do Haiti coloca-se ao lado de cada mulher haitiana que perdeu seus filhos e parentes no terremoto, enquanto as tropas salvavam os hóspedes dos hotéis de luxo. Estamos aqui pelas mulheres e meninas negras que são estupradas por essas mesmas tropas, enquanto o governo Lula faz demagogia com essa história de missão de paz e ajuda humanitária".

Ane Fernandes, do Pão e Rosas Araraquara sobre 1 mês do terremoto no Haiti diz que "A cada semana que passa, não só do terremoto, mas desde a entrada das tropas brasileiras no Haiti, se mostra cada vez mais necessário a mobilização e organização contra a opressão de mulheres, negros e negras, trabalhadores e trabalhadoras, pois essa grande demagogia de envio de tropas não resulta em nenhuma salvação de nenhum povo, só em assassinato, estupro e exploração. Os cartazes são uma forma de atingir a classe trabalhadora para se levantar e dizer Chega! Fora as tropas dos EUA e da ONU do Haiti! Fora as tropas brasileiras enviadas por Lula que comandam a MINUSTAH!

Leve a campanha Somos as negras do Haiti para sua escola, trabalho, faculdade, bairro. Entre em contato conosco: paoerosasbr@gmail.com

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Depois do terremoto recente no Haiti, as tropas norte-americanas, junto com as tropas da Minustah/ONU comandadas pelo Brasil, estão a serviço de garantir a “reconstrução” do Haiti, que garantirá imensos lucros à burguesia internacional. Para isso, o plano é estender por anos a permanência das tropas, que terão que ficar no país para que os “bárbaros” e “selvagens” haitianos sejam “civilizados”.
Os EUA, a ONU e o Brasil aproveitam a catástrofe ocorrida para enviar mais tropas para reprimir o povo haitiano e para garantir uma maior espoliação do país. Não podemos nos enganar com a falácia da ONU e do imperialismo de “ajuda humanitária”, eles só estão preocupados em garantir seus lucros. Também não podemos crer no governo Lula de que o exército brasileiro está cumprindo uma “missão de paz”. Há quase seis anos, a repressão é o papel que cumprem as tropas da Minustah comandadas pelo exército brasileiro, o mesmo que torturou e assassinou os trabalhadores e o povo durante a ditadura militar brasileira.
O povo haitiano precisa de remédios, de comida, de água e não de repressão. Relatos recentes de
organizações de direitos humanos e militantes que estiveram no Haiti mostram como os haitianos podem tomar em suas próprias mãos a distribuição da ajuda enviada, dos alimentos e remédios, e onde eles estão fazendo isso a ajuda está chegando muito mais do que pelas mãos dos soldados de qualquer exército. Como podemos depositar alguma confiança no imperialismo norte-americano, o mesmo que impediu centenas de médicos e outros voluntários de entrar no país. Não temos nenhuma confiança nos governos, nos exércitos e na ONU para distribuir a ajuda enviada, só as organizações operárias e populares do Haiti podem garantir a distribuição de
forma justa.
Ainda mais revoltante foi ver a declaração do Cônsul haitiano no Brasil, que despudoradamente expressou todo o racismo da burguesia imperialista e seus governos servis, dizendo que "A desgraça de lá (Haiti) está sendo uma boa para a gente aqui ficar conhecido (...) Aquele povo africano acho que de tanto mexer com macumba, não sei o que á aquilo (...) O africano em si tem maldição. Todo lugar em que tem africano tá fodido". Por tudo isso, fizemos a convocação
de um ato em frente ao consulado haitiano que se realizou no dia ... de janeiro e estamos organizando atividades em todos os lugares onde estamos.
Nós, trabalhadores e jovens do mundo todo, em especial do Brasil, já que o governo Lula vem cumprindo um papel nefasto na ocupação do país, temos que nos solidarizar ativamente com o povo haitiano, fazer todos os esforços para ajudar concretamente e materialmente , mas sempre pensando em como vamos ajudar o povo haitiano a se livrar da histórica opressão imperialista e a decidir os rumos das suas vidas e de seu país, a exemplo da própria revolução haitiana que, a
partir do levante dos negros escravizados, alcançou a independência do país e o fim da escravidão, no início do século XIX .
Por isso, nós, trabalhadores e jovens da LER-QI, temos impulsionado, na medida de nossas forças, uma campanha chamando a solidariedade operária e popular ao povo haitiano. Queremos reforçar o chamado a todas as organizações políticas, organizações de direitos humanos, estudantes e trabalhadores a somarem esforços nessa campanha.
Infelizmente até agora pouco foi feito para concretizar a campanha em solidariedade ao povo haitiano. A Frente Nacional de Solidariedade ao Haiti montada em São Paulo, até agora se reuniu apenas uma vez e marcou um ato somente para 21 de março. Isso é uma demonstração de que essa Frente não pode levar a cabo uma campanha séria de solidariedade, se ficar à reboque de organizações como o PT e a CUT, que estão comprometidos com a defesa do governo Lula e que nunca serão conseqüentes com uma campanha que denuncie o papel das tropas brasileiras que o próprio Lula mantém no Haiti há vários anos. Por isso, chamamos os setores classistas e combativos, em especial a Conlutas e o PSTU, que estão dispostos a fazer uma campanha que denuncie o papel do governo Lula e suas tropas, do imperialismo e da burguesia branca e racista, a tomar como tarefa nesse momento construir um grande ato no dia 25/02, data da provável visita de Lula ao Haiti.
SE CONCORDA COM NOSSO CHAMADO AJUDE (Copie estas imagens frente e verso do panfleto-cartaz imprima e distribua):

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Esclarecimentos sobre o caráter e a função do pedágio-ato


Com esse texto, nós, membros das entidades estudantis (DAF, CA’s, Atlética e Comissão de Moradia) e demais estudantes da Comissão de Recepção dos Calouros de 2010, pretendemos explicar aos demais estudantes do IBILCE algumas “modificações” que irão acontecer este ano na Semana de Recepção, principalmente relacionado ao Pedágio.

Em primeiro, explicaremos que o pedágio, não será, dessa vez, apenas uma forma de se arrecadar dinheiro para executarmos a semana e a Chopada. Mas por que isso?

Grande parte se deve ao fato da maioria de nós não concordarmos com a finalidade dada ao dinheiro arrecadado da população, que geralmente acaba virando cerveja. Com a intenção de mudar essa mentalidade, organizamos neste ano de 2010, o primeiro pedágio-ato.

O pedágio-ato desse ano será uma forma política de demonstrar nossa solidariedade com a população do Haiti e nossa indignação pelo que vem ocorrendo no país mais pobre das Américas, principalmente após a sua ocupação militar pelas forças da ONU em 2004 e mais ainda agora, depois do forte terremoto e da rápida resposta armada dada pelos países como França, Estados Unidos e Brasil em oposição a uma ajuda humanitária de fato.

O Haiti, por ter sido o primeiro país a se tornar independente na América, e ainda por cima com uma revolução de parte escravista, vem sofrendo, no decorrer de toda sua história, o abuso de países mais ricos que só veem em sua população mão-de-obra barata e que, por meio de ocupações e ditaduras militares apoiadas por esses países desde 1925, o tornaram um território enormemente pobre, que serve somente para ser explorado pelos interesses das grandes multinacionais.

Para que isso ocorresse de forma facilitada, em 29 de fevereiro de 2004, soldados americanos se aproveitaram do início de uma revolta popular para retirar o então presidente haitiano Jean-Bertrand Aristide (que não servia mais aos interesses norte-americanos) , contra a sua vontade, do país e consequentemente do poder.

Nisso, a população se revoltou com a ingerência imperialista em seu país e exigiu o retorno de Aristide ao Haiti. O presidente de fato, colocado no poder por meio do golpe norte-americano, temendo o pior, pediu imediatamente ajuda as Nações Unidas, que de imediato enviou a Força Multinacional Interina, chefiada pelo Brasil.

Ainda em 2004, o Conselho de Segurança da ONU considerou o país mais pobre das Américas como uma ameaça para a paz internacional, e com isso criou a Missão das Nações Unidas para a Estabilização do Haiti (MINUSTAH), que contava com soldados de vários países, entre eles o Brasil, que os comandava.

O homem escolhido para liderar a MINUSTAH foi o General Augusto Heleno Ribeiro Pereira, que ao se retirar do poder disse:

“Desculpas inconsistentes continuam adiando providências urgentes no campo econômico e social, obrigando os militares a realizar ações humanitárias que fogem a sua alçada. Deixei o Haiti convicto de que somente a geração maciça de postos de trabalho melhorará as condições de vida e criará uma esperança de futuro para os jovens haitianos. Exigir uma segurança impecável para aplicar recursos quando 80% da força de trabalho não possui emprego formal e 70% do povo sobrevive miseravelmente com uma refeição diária soa utópico e até mesmo cruel.” (grifos nossos)

Nas palavras de Pereira fica claro que o papel das tropas no país é garantir a “segurança impecável para aplicar recursos” e, ainda de acordo com ele, que ações humanitárias “fogem da alçada” das tropas, que se vêem, às vezes, obrigadas a realizar. E é por esse e outros motivos que queremos demonstrar a nossa repulsa com a permanência de soldados dos EUA e da ONU, principalmente os brasileiros, em solo haitiano.

O Brasil, ciente há anos da condição precária da população haitiana, esperou pela ocorrência de uma tragédia como a do último 12 de janeiro, para enfim tentar justificar a presença militar no país com o discurso de força humanitária.

Porém, com o exército brasileiro em terras haitianas há quase 6 anos, o máximo que eles fizeram para mudar a situação foi prover segurança para que grande empresas multinacionais, como a Wrangler e a Levis pudessem investir seu capital no país em troca de mão-de-obra semi-escrava (o salário-mínimo é de menos de 50 dólares por mês, os trabalhadores não possuem direitos trabalhistas e as jornadas de trabalho chegam a ultrapassar 14 horas/diárias)

Por esses motivos acima apresentados, demonstramos que neste ano de 2010 o nosso tradicional pedágio terá uma profundidade maior do que as edições anteriores. Pretendemos, com ele, não somente arrecadar dinheiro para uma doação humanitária, mas para além, demonstrar que estamos cientes do que acontece no mundo inteiro, e que não estamos fechados numa realidade apenas nossa.

E estando cientes do que ocorreu e vem ocorrendo no Haiti, iremos às ruas no dia 25/02 a partir das 14:00, nos principais pontos da cidade, manifestar nosso repúdio à presença das tropas militares no Haiti, exigindo o retorno das tropas brasileiras, o envio de médicos e enfermeiros, o perdão da dívida externa do Haiti e arrecadando dinheiro na forma de pedágio para doarmos a uma organização popular, para que o povo haitiano e os trabalhadores controlem os recursos recebidos.

E para isso ocorrer da melhor forma possível, esperamos contar com o apoio de todos os alunos, sejam calouros, sejam veteranos, do câmpus para promover o ato com sucesso.

Estudantes e entidades da Comissão de Recepção dos Calouros de 2010

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Campanha do Pão e Rosas pelo Haiti: “Continuemos levantando a voz, porque as tropas têm que ir embora”

Como parte da campanha que o Pão e Rosas vem desenvolvendo em distintos países da América Latina e do Caribe, em solidariedade com as mulheres e o povo pobre e trabalhador do Haiti, nós do Pan y Rosas México decidimos viajar para a Ilha de Espanhola (Haiti e República Dominicana), com a colaboração de nossas companheiras da Argentina, Brasil, Chile e Bolívia. Recém chegando na República Dominicana, onde acompanharei as ações do acampamento feminista na fronteira com o Haiti e as viagens solidárias à cidade de Leogane à 17 km de Porto Príncipe, me encontrei com Julio Garcia, voluntário do acampamento de jovens dominicanos e haitianos Kiskeya Action e com Mirla Hernández, feminista lésbica autônoma, que rapidamente me apresentaram um panorama da situação do país vizinho.

Por Sofía Yañez, desde São Domingos

Julio denuncia a corrupção e a demora na qual se vê envolta a ajuda humanitária, e assegura que quando fizer um mês do terremoto haverão “mobilizações massivas contra a ineficiência do Estado haitiano, uma ineficiência que sempre existiu, mas que agora é mais evidente. As organizações têm mantido o fluxo da ajuda, mas ocorreram muitos entraves provocados tanto pelo Estado haitiano como pelas ONG’s, ou seja, a ajuda tem que passar por muitos ‘controles’. Tem muita corrupção e roubo. Aqui, na República Dominicana, por exemplo, foi perdido um dos contêineres”. Claro que estes fatos não são os que vêm à tona nos grandes meios de comunicação. Mirla agrega: “Soubemos de algumas mobilizações de pessoas que estavam protestando para que a ajuda seja distribuída; mas, levando em consideração como se manipulam os meios de comunicação, isso não noticiaram”.

Julio, comenta que no acampamento dos jovens dominicanos e haitianos no qual ele colabora, ajudam mais de duas mil pessoas, mas que o ritmo no qual essa ajuda chega foi reduzido. Onde está, então, tudo aquilo que chega na ilha? Ele não hesita em responsabilizar os comandos militares por estocar e distribuir a ajuda a seu bel-prazer. “Todos os grandes carregamentos os militares estão controlando: a comida, a água, o controle da construção de mercados ... tudo!” E também denuncia os operativos montados pelas tropas norte-americanas: “Em nosso acampamento, vimos que, para ‘entregar ajuda’, se realizou um deslocamento militar parecido com as escoltas de Obama, iam três caminhões Hummer, cada um com umas seis pessoas, todos fortemente armados e um posicionamento territorial espetacular para criar um ambiente de hostilidade, de guerra. Para quê? Para um povo faminto?”

Mas não somente as tropas que ocupam militarmente o Haiti são repudiadas por Julio e Mirla, mas também as organizações que vem lucrar com a tragédia. Mirla diz que “muitas organizações vem fazer mérito para ganhar patrocínios; somente para isso. E depois, com os investimentos obtidos, dedicar-se a viver bem, a custa de dizer ‘ajudamos haitianos’. Quando a alternativa deve ser que sejam eles [o povo haitiano] os que decidam, os que levantem seu país. Com nossa ajuda, mas eles tomando o comando”. Julio agrega que, “além disso, estas organizações repetem o discurso que foi algo ‘natural’, quando todos sabemos que as conseqüências – disse referindo-se ao terremoto – são produto da pobreza que já havia no país. Esta catástrofe não teria as mesmas conseqüências nem sequer aqui, na República Dominicana. O cúmulo é que têm crianças que estão morrendo desidratados, quando muita ajuda que chega é água...”.

Antes de nos despedir, perguntamos o que opinam da campanha que o Pão e Rosas lançou e Mirla no responde: “Primeiro, quero dizer que precisamos do Pão e Rosas nesta parte do Caribe. A iniciativa – disse, se referindo à declaração unitária na qual ela também aderiu – me parece muito boa, para que sigamos denunciando e levantando a voz, para que os capitalistas e as empresas que, historicamente têm saqueado o Haiti, sejam as que se responsabilizem. E que seja perdoada a dívida, que depois não venha o FMI querer criar novos empréstimos. É necessário que continuemos levantando a voz, porque as tropas tem que ir embora, porque é claro que tem a intenção de invadir e explorar o país. Por isso é importantíssima a campanha que o Pão e Rosas está fazendo, porque faz uma clara denúncia a qual nenhum grupo se atreveu a fazer porque se focam no assistencialismo. É necessário difundir mais a declaração, já me somei a essa tarefa”.

Amanhã uma longa viagem me espera até Leogane, a 17 km de Porto Príncipe, o epicentro do terremoto que sepultou milhares de pessoas sob os escombros. Lá, 90% dos edifícios foram destruídos e, como a ajuda se concentra na capital haitiana, os sobreviventes da tragédia, se vêm obrigados a esperar mais do que o humanamente possível por alimentos, água, assistência médica... As mulheres dominicanas da coletiva Mulher e Saúde reservaram um lugar para mim em seu veículo rumo ao acampamento que montaram nesta cidade haitiana, onde recebem voluntários e voluntárias que podem ir até por sete dias, desde São Domingos.

De volta ao hotel, penso nas palavras de Mirla ... “continuemos levantando a voz, porque as tropas têm que ir embora”. Aqui ninguém mais acredita que são necessárias tantas equipes militares, tantos milhares de soldados e armar de fogo para brindar “ajuda humanitária” a um povo que, antes do terremoto, já sabia que a pior catástrofe era o domínio imperialista.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Pão e Rosas junto às nossas irmãs haitianas!

Por Pan y Rosas - México*


Assim como fizemos durante o golpe de Estado em Honduras, o Pão e Rosas levanta hoje uma grande campanha unitária em solidariedade com as mulheres no Haiti junto a outras agrupações, coletivos, ativistas feministas, autonomistas, anticapitalistas de mais de 13 países da América latina e Caribe. Exigimos a retirada das tropas imperialistas da ONU, que a ajuda saia dos lucros milionários das empresas capitalistas e que seja distribuída pelas organizações de mulheres, sindicais e populares.

Enviamos uma correspondente para levar nossa solidariedade ao acampamento feminino que instalaram companheiras dominicanas e costarriquenhas na fronteira com a Republica Dominicana, e que se converteu em um centro físico e simbólico do apoio de todas as mulheres da América Latina e Caribe com nossas irmãs haitianas.

No próximo 8 de março, Dia Internacional da Mulher, devemos convertê-lo em uma grande jornada de luta pelos nossos diretos no México e um dia de luta antiimperialista e de solidariedade internacionalista em todos os países da América Latina e Caribe junto às mulheres haitianas.


*Traduzido por Bruna Bastos

Mara Onijá na RecordNews

FORA AS TROPAS DO HAITI! SOLIDARIEDADE OPERÁRIA E POPULAR AO POVO E ÀS MULHERES HAITIANAS!

Mara Onijá, integrante do grupo de mulheres Pão e Rosas, juntamente com Sônia, do Movimento Negro Unificado (Diadema), participaram do programa RecordNews para discutirem o Haiti a situação das mulheres. Mara desmascarou o papel que as tropas da ONU (sob comando do Brasil) vem cumprindo naquele país miserável devido a ocupações militares, ditaduras sangrentas e embarcos econômicos. Resgatou também o importante papel que as mulheres tem frente a opressão imperialista e das tropas brasileiras.

“Com armas de fogo não se levantam escombros, com armas de fogo se mata gente”


sábado, 6 de fevereiro de 2010
O Pão e Rosas entrevistou Mirla Hernández, feminista dominicana que esteve em Porto Príncipe, capital do Haiti.




(República Dominicana, 04 de fevereiro de 2010) Falamos em São Domingos com a dominicana Mirla Hernández, quem se apresenta como feminista lesbiana autônoma e de esquerda. O encontro foi a poucos dias de sua volta de Porto Príncipe, a capital devastada do Haiti. “A sensação mais forte que ficou de ver essa situação foi a raiva, pelas mentiras que se apresentam nos grandes meios de comunicação sobre como estão reagindo os haitianos. A cidade está destruída, a maioria dos edifícios caíram no chão, tem muita gente na rua; mas não é verdade o que se diz de que as pessoas estão armadas e que estão matando e roubando a comida de outras pessoas. O povo haitiano é muito digno, é muito forte. Se existe um povo que sabe resistir esse é o povo haitiano”.


Em seguida nos diz, olhando para a câmera, “e isto é uma denúncia: Porto Príncipe está cheio de marines e obviamente que não é com o sentido de resgatar ninguém nem ajudar ninguém... estão aqui para ‘previnir’, sengundo eles, insurreições ou mobilizações”. Mirla faz um gesto de aspas com seus dedos quando pronuncia a palavra “prevenir”. Indignada, depois de ter visto as verdadeiras necessidades que estão passando o povo haitiano, Mirla disse: “mais do que marines, o que necessitam são pessoas para o resgate, gente que venha com equipamentos para levantar escombros; com armas de fogo não se levantam escombros, com armas de fogo se mata gente”.


Quando a perguntamos sobre a situação no Haiti, antes da tragédia, nos conta: “As denúncias que eu vi e escutei no Haiti sobre a MINUSTAH antes do terremoto, são denúncias de estupros de mulheres, de roubos e assassinatos. Eu vi membros da MINUSTAH, em 2008, paquerando e tocando meninas de 13 e 14 anos”. Sobre a situação das mulheres, explana: “Migram para esta parte da ilha – referindo-se à República Dominicana – e fazem o trabalho doméstico, trabalho de colheita nas fazendas de tomate, café, banana, nos campos de cana... e agora vai ser muito pior. Neste momento, todas as mulheres que estavam grávidas e estão tendo abortos espontâneos ou partos prematuros estão nas piores condições”. Também sabe que os estupros e a violência contra as mulheres aumentarão nesta catástrofe.


Quer deixar uma mensagem aos povos da América Latina e do Caribe que sentem profunda dor pelo Haiti: “Eu não vou dizer que mandem dinheiro nem que mandem coisas. É importante colocar as mãos, o ombro e todo o corpo a serviço do Haiti, mas lembrando uma coisa: nós não vamos resolver a vida dos haitianos. Os haitianos têm a força suficiente para retomar seu país. Necessitam de nossa ajuda, necessitam de nossa colaboração; mas não com uma política assistencialista, não somos nós quem vamos tomar o Haiti. Então quero chamar muito a atenção de que é preciso ter muito cuidado com o que está fazendo o governo dos Estados Unidos; há uma intencionalidade de invasão do Haiti, de apropriação do Haiti. É preciso estar muito atento para isso e não permitir essa invasão, é preciso denunciá-la, é preciso unir forças para não permitir isso ou pelo menos para dar este apoio ao povo haitiano, eles são os protagonistas de seu destino. É preciso respeitar a autonomia do povo haitiano”.


Mirla, junto a dezenas de feministas e mulheres de quatorze países da América Latina e do Caribe, assinaram a declaração unitária impulsionada pelo Pão e Rosas e outras companheiras feministas autônomas em todo o continente.


Se junte você também à nossa campanha enviando sua adesão e pedindo mais assinaturas para que se ouçam a voz enérgica de milhares de mulheres da América Latina e do Caribe em solidariedade com nossas irmãs e o povo pobre e trabalhador do Haiti!




Pão e Rosas
LER-QI e Independentes
http://nucleopaoero sas.blogspot. com/

sábado, 6 de fevereiro de 2010

O Líder in partibus infidelium

Por André Augusto

Antes que façam as licitações bilionárias propriamente ditas às empresas transnacionais encarregadas da reconstrução do Haiti, acorde com as resoluções principais da Conferência de Montreal, a mais recente licitação de frases das autoridades da “comunidade internacional”, (que aparentemente se concentram em sua totalidade em Washington), é a de que os “haitianos não confiam em seu presidente depois de observar o extraordinário esforço internacional para a solução da catástrofe, enviando navios, tanques de guerra, dinheiro e soldados”. Continua ainda com o inescapável corolário que já vinhamos anunciando há semanas, mas que a modéstia dos bucaneiros faz aparecer por último: “Não surpreendentemente, eles se viram para o verdadeiro governo de ajuda no país”.

O monge insuspeito que disse o que vai acima é Robert Pastor, conselheiro para assuntos do Haiti do governo Clinton. Obviamente, essa declaração oportunista só poderia mostrar seu rosto tímido após constatar o campo limpo para isso, em vista do rechaço público por parte do povo haitiano tanto da inépcia de seu “ex-presidente” e ventríloquo nacional René Préval, quanto da presença das tropas da MINUSTAH no país, com um realce especial para os serviços “heróicos” prestados pelos brasileiros.

Em 1994, após a instalação da ditadura militar no Haiti em 1991 sob o uniforme de Raúl Cedrás – colocado com as próprias mãos de George H. W. Bush, o genitor do grande assaltante do Oriente Médio – quando a insatisfação popular ameaçava removê-lo por seus próprios métodos combativos, Bill Clinton reinstalou Jean Bertrand Aristide, derrubado em 1991 em favor da ditadura, com a ajuda de uma nova ingerência dos fuzileiros navais norte-americanos, (de modo semelhante ao processo atual de novo inchamento da bolha de fuzileiros navais). O sr. Bill Clinton assim o fizera apenas depois de que Aristide abandonara qualquer pretensão “populista” e aceitara implementar um plano neoliberal proposto pelo Fundo Monetário Internacional, o FMI. Clinton serviu bem a Câmara dos Deputados e a Bolsa de Wall Street com mais um serviçal do imperialismo.

Ante a situação cataclísmica vivida no Haiti, o povo caribenho tem o dissabor de ver a liderança da pirataria internacional – agora tomando a forma vindoura da reconstrução do Haiti, sendo que de modo algum se localiza uma base sólida de saúde popular após a “comunidade internacional” se dissolver em aparatos militares dentro do país – entregue a ninguém menos que... Bill Clinton, um dos responsáveis diretos pela submissão dos trabalhadores e do povo pobre haitiano e de sua centenária condenação à miséria. Quem entregou esse fardo ao antigo zelador da Casa Branca? O seu zelador atual: Barack Obama.

É necessário impulsionar a combinação mais única das forças indispensáveis para o reerguimento genuíno do povo haitiano. Tudo se levanta de acordo com o estado de suas juntas e articulações. Enquanto os esforços para manter os haitianos ajoelhados serão administrados a jorros pelos bilhões de dólares em licitações para as multinacionais, que seguirão demonstrando ao povo que este não se pode ajudar a si mesmo sem o bolso cheio, cumpre lubrificar as juntas da consciência de classe das trabalhadoras e dos trabalhadores e deixar flamejante a luta desse heróico país caribenho, tão devassado por todos os poros abertos de modo sangrento durante sua história.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Ato em solidariedade ao povo haitiano em Campinas



Por LER-QI Campinas

Dando continuidade à campanha de solidariedade ativa ao oprimido povo haitiano, hoje, dia 02/02, o Centro Acadêmico de Ciências Humanas (CACH) da Unicamp impulsionou mais um importante ato no centro de Campinas. Além de membros da gestão do CACH se solidarizaram com o povo haitiano o grêmio da ETECAP e outros estudantes secundaristas, professores da rede pública de ensino, trabalhadores do telemarketing e o grupo de mulheres Pão e Rosas, que incorporou o chamado do ato.

Entre panfletagens, conversas e cartazes estendidos, pudemos dizer aos trabalhadores de Campinas o real papel que cumprem as “tropas de paz” da ONU e do imperialismo norte-americano, que sob o manto da “ajuda humanitária”, massacram, oprimem e exploram os trabalhadores e trabalhadoras haitianas. Para as mulheres isso é ainda mais grave, pois além de viverem da miséria diária, e tirarem do seu suor a pouca comida que forra os roncantes estômagos daquela gente, são ao mesmo tempo violentadas e oprimidas por essas tropas de ocupação.

Esta importante ação, que reaviva as movimentações da esquerda que há muito se perdeu no centro de Campinas dada a tragédia petista, recobra sua importâcia por denunciar veementemente o papel desempenhado pelas tropas brasileiras de Lula, que até agora vinham liderando o massacre do povo haitiano, e que em grande parte tem sua escola de formação aqui em Campinas. O Haiti transformou-se o laboratório das tropas de Lula na busca da perfeição da arte de fuzilar favelados e trabalhadores de rua! Das nossas falas e escritos devem cada vez mais transparecer a dureza do real e assim o fizemos no centro hoje.

Queremos ser porta-vozes dos trabalhadores e povo pobre haitiano dizendo que dessa “ajuda humanitária” desumana e opressiva o Haiti está farto! Exigindo a imediata retirada de todas as trapas internacionais do território haitiano e que a distribuição dos alimentos e doações seja controlada pelas próprias mãos dos haitianos! Conclamando uma solidariedade ativa dos trabalhadores e das entidades e organizações de esquerda ao povo haitiano!

Este é mais um passo de muitos que pretendemos dar em solidariedade ao povo haitiano e aos trabalhadores de modo geral no intuito de forjar um verdadeiro centro acadêmico militante, que atue no sentido da transformação da realidade.

Leia o Panfleto do CACH para o ato

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Uma “ajuda humanitária” a serviço dos interesses imperialistas


DECLARAÇÃO DA LIGA ESTRATÉGIA REVOLUCIONÁRIA – QUARTA INTERNACIONAL

Enquanto a imprensa imperialista propagandeia o envio de tropas, a ocupação militar e a tomada de controle do Haiti como “ajuda humanitária” e os estados imperialistas e suas multinacionais tentam cobrir-se com aparência benévola anunciando “doações”, o governo brasileiro trata de utilizar o catastrófico terremoto para vender a imagem de que sua liderança nas tropas da ONU (MINUSTAH) que ocupam aquele país desde 2005 cumpre um suposto papel “humanitário”. Entretanto, a enorme dimensão da catástrofe por um lado, e o conflito entre os distintos interesses imperialistas e capitalistas por outro, vem tratando de evidenciar a realidade por trás destes discursos. As organizações operárias e populares e inclusive a própria imprensa burguesa e as organizações de assistência social ligadas às tropas ocupantes têm mostrado como as tropas dos EUA e da MINUSTAH vêm atuado de acordo com os interesses cada país ocupante e das elites locais, em detrimento das necessidades da esmagadora maioria do povo haitiano que padece de sofrimentos inimagináveis. Não tem sido possível esconder que, desde o início da suposta operação “humanitária”, o controle do aeroporto e dos portos está a serviço de trazer contingentes e aparato militar e transportar a elite do privilegiada do país, em detrimento do escoamento de alimentos, remédios, médicos e auxílio para o resgate de pessoas sob os escombros. Salta aos olhos a “prioridade” dada ao “salvamento” dos bairros ricos, hotéis de luxo e instalações da ONU em detrimento dos bairros pobres. A propaganda ideológica que tenta justificar o recrudescimento da ocupação e da ação repressiva militar com os saques que o povo justamente realiza em sua busca por sobrevivência contrasta com os depósitos de mantimentos e remédios da ONU rigorosamente guardados pelas tropas imperialistas.
O jogo de cena diplomático...

Nos últimos dias, temos assistido na imprensa um verdadeiro “show business” (para não dizer “show de horrores”), no qual, enquanto os haitianos estão mergulhados na catástrofe, Brasil, EUA, ONU e União Européia disputam holofotes e posições sobre este território, cada um galgando para si maiores “brios” pela “ajuda humanitária”; cada qual buscando reservar para si parte mais importante no “botim” da reconstrução. A tal ponto que o ministro da Itália responsável pela operação de salvamento diante do terremoto neste país ano passado chegou a denunciar que o número de morte foi muito maior devido à falácia da “ajuda humanitária” orquestrada pelo imperialismo no Haiti. A “Conferência Preparatória Ministerial em favor do Haiti” que reuniu cerca de 20 países e instituições no Canadá dia 26/10 se esforçou em mostrar o governo do Haiti como “líder” do país. O que não passa de mera formalidade diplomática frente ao brutal aumento de tropas estrangeiras; frente ao “consenso” desta mesma Conferência de que a ocupação durará como mínimo mais 10 anos; ou frente à declaração dada por Hillary Clinton ao jornal The New York Times em sua primeira visita ao país após o terremoto, sobre sua sutil “sugestão” ao presidente do Haiti para que decretasse “estado de sitio”: "O decreto daria ao governo uma quantidade enorme de autoridade, que, na prática, seria delegado a nós". O servilismo do governo haitiano fica ainda mais evidente quando este publicamente defende os EUA diante das inúmeras denúncias de o “amo do norte” estaria aproveitando a situação para reforçar sua ocupação militar. Por mais que o governo brasileiro e o governo norte-americano se esforcem para transmitir a idéia de que não existem maiores conflitos entre eles na “gestão” da catástrofe, as palavras vêm sendo permanentemente desmentidas pelos fatos. De um lado, os EUA, por mais que declarem seu papel como “passageiro”, reforçam sua presença no Haiti com mais de 16 mil soldados (enquanto as tropas da Minustah não passam de 9 mil, com autorização recente para serem acrescidos com mais 3,5 mil), controlam sozinhos os principais pontos estratégicos, como o aeroporto e o porto, e não aceitam submeter suas tropas ao comando da ONU. Por outro lado, o Brasil, que hoje tem 1,3 mil homens em solo haitiano e recentemente aprovou envio de mais 1,3 mil reivindica para si a liderança do que vem sendo chamado “processo de reconstrução”. Diante da proposta do FMI de um “Plano Marshall” para o Haiti (em alusão à iniciativa dos Estados Unidos para reerguer a Europa depois da Segunda Guerra Mundial), o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, tratou de contrapor sua proposta de implementação de um “Plano Lula". Amorim assim explicitou sua visão sobre os respectivos papéis de Brasília e Washington no Haiti. "A nossa presença aqui é de longo prazo, e a das forças americanas é passageira". Inclusive no âmbito militar estes conflitos têm se evidenciado, não só nas declarações de protesto do Comandante das forças brasileiras no país, Floriano Peixoto, mas inclusive em manobras como a distribuição de alimentos pelas tropas brasileiras em frente aos destroços do Palácio do Governo haitiano, a contragosto dos EUA que controlam este local.
... e os reais interesses em jogo no Haiti

As contradições entre os gestos diplomáticos conciliadores e os conflitos que têm se desenvolvido entre os países que intervém no Haiti se explicam pelos interesses imperialistas e capitalistas, políticos e econômicos, em jogo neste país. Como se diz na própria imprensa imperialista, Obama quer que o Haiti seja para seu governo o contrário do que foi o Katrina para o governo Bush. Entretanto, existem outros interesses imediatos e estratégicos por trás da magnitude do aparato militar enviado pelos EUA. Em primeiro lugar, querem garantir que a debilidade do Estado haitiano e das tropas da ONU não dê lugar a um processo de rebelião e revolta popular. Ligado a este temor, querem garantir a “integridade” do capital que têm investido neste país. Os monopólios capitalistas norte-americanos possuem significativos negócios no Haiti, nos quais se vinculam com as classes dominantes nativas, latifundiários e grandes burgueses, que representam cerca de 3% da população. O governo estadunidense foi responsável pela criação de um pólo de indústrias maquiladoras neste país, onde corporações como Nike e Adidas produzir seus artigos esportivos pagando um salário de fome aos trabalhadores. Pelas tabelas oficiais, uma costureira na capital, Porto Príncipe, deveria receber US$ 0,50 por hora, contra US$ 3,27 no Brasil e US$ 16,92 nos EUA. São pessoas que vivem, tanto em suas casas como nas empresas, em verdadeiros campos de concentração, extremamente militarizados, trabalhando para exportar produtos a preços irrisórios para o USA [1]. Simultaneamente à ocupação da Minustah, o Congresso norte-americano criou uma lei ironicamente chamada “Hope” ("Haiti Hemispheric Oportunity Trough Partnership Encourajement", cuja sigla em inglês ironicamente significa "esperança"), cuja função é impor ao Haiti que a cada 1 m² de roupa feita com tecido estrangeiro para exportação ao USA, o Haiti deve usar 3 m² de tecido local, dos EUA, ou de países que têm TLCs com os EUA. Para além destes interesses econômicos imediatos, os Estados Unidos obviamente também estão interessados em obter sua parte (o quanto maior, melhor) no “botim” da chamada “reconstrução” do Haiti. As multinacionais ianques já tiveram uma “excelente” experiência do que significou para seus lucros sua participação no botim da “reconstrução” do Iraque. Agora, não poderia ser diferente, ainda mais quando serão “ajudados” pelos significativos cofres de doações destinados ao Haiti. Desde o ponto de vista estratégico, não podemos descartar que os EUA possa estar interessado em consolidar uma posição militar mais forte no Caribe que possa servir como um elemento a mais de pressão para a restauração capitalista em Cuba; ou para se prevenir de novas crises que venham a se desenvolver em seu “pátio traseiro” em função da crise econômica mundial ou dos fenômenos de polarização social que vêm atravessando a América Latina e o Caribe nos últimos anos. Esta análise da perspectiva estratégica para a política dos EUA está ligada ao apoio velado, mas fundamental, que o país ianque teve na consolidação do golpe em Honduras; e na instalação das bases norte-americanas na Colômbia. Tudo isso pode ser encarado como uma política preparatória para momentos mais álgidos da luta de classes que podem se abrir na região num futuro não distante na região; o que por outro lado, também poderia abrir novas contradições para os EUA na medida em que ainda não resolveu os problemas no Oriente Médio. Ainda que o esperemos a evolução dos acontecimentos para definir mais precisamente os objetivos estratégicos do brutal reforço militar dos EUA sobre o Haiti, o que já está claro é que Obama se utiliza de sua legitimidade internacional para aumentar a presença ianque na região.

[1] Ver denúncia ao AND feita por Sandra Maria Quintela Lopes (economista, formada na Universidade Federal de Alagoas e pós-graduada na Universidade de Bremen, na Alemanha, além de mestre pela Coppe - UFRJ).

A solidariedade operária e popular ao povo haitiano exige lutar contra a ocupação militar dos EUA, do Brasil e da ONU


Os interesses do governo Lula e da burguesia brasileira no Haiti

Desde que o Brasil assumiu a liderança das tropas da Minuistah, muito já se disse sobre o objetivo do governo Lula de, cumprindo este papel, aumentar seu “cacife” para conquistar uma cadeira permanente no Conselho de Segurança da ONU. Para Lula, em ano de eleições nacionais, cobra enorme valor entrar para a história visto como um presidente que elevou a participação internacional do Brasil em relação aos governos anteriores, não só para sedimentar posição uma posição mais altiva do Brasil frente ao imperialismo, mas também para ser capitalizado internamente. Haja visto que a própria Rede Globo, historicamente opositora do petismo, está fazendo uma campanha contra a “intromissão” do imperialismo no “terreno” da Minustah. Entretanto, pouco se sabe sobre os interesses econômicos ligados a esta empreitada. No site do Itamaray encontramos um link para o “Programa de Promoção das Exportações para o Sistema das Nações Unidas” (PPE-ONU/MRE). Esta é uma iniciativa que visa divulgar as demandas de importação de produtos brasileiros existentes no âmbito da ONU e orientar as empresas nacionais para participarem do chamado “mercado da ONU”. Em 2005, este sistema, composto por 30 fundos, movimentou US$ 8,3 bilhões em bens e serviços. Volume que passou para US$ 9,4 bilhões em 2006. Durante a liderança brasileira à frente da Minustah, a construtora brasileira OAS passou a construir uma rodovia no Haiti licitada em US$ 145 milhões. Além disso a Companhia de Tecidos Norte de Minas (Coteminas), empresa do vice-presidente brasileiro, José de Alencar, estava em vias de abrir lucrativo negócio no Haiti, buscando valer-se do baixíssimo preço da mão-de-obra têxtil neste país e aproveitar do Tratado de Livre Comércio (TLC) com tarifa zero entre Caribe e EUA para fugir da taxa média de 17% imposta às exportações têxteis brasileiras, construindo assim uma mais lucrativa plataforma de exportação para os EUA. Em 2007 a Coteminas já havia aprovado a instalação de um moinho têxtil na República Dominicana, com capacidade de produção estimada em 40 milhões de metros quadrados de jeans, para corte e confecção no Haiti, e vinha estudando a instalação de outras fábricas na América Central e Caribe. Aqui, o papel de liderança do Brasil na Minustah é utilizado também como moeda de troca para que os Estados Unidos aceitem sem represálias que as empresas brasileiras instaladas no Haiti usem osTLCs para exportarem aos EUA, como já é feito em diversos negócios com bio-combustíveis na América Central desde acordo firmado entre Lula e Bush. Josué Gomes da Silva, atual presidente da Coteminas e filho de José Alencar, deu a seguinte declaração para o jornal Valor Econômico: "O Brasil é um reconhecido colaborador do processo de resgatar o Haiti. O país tem o direito de pleitear um tratamento preferencial". Agora, após a catástrofe, naturalmente o as classes dominantes brasileiras não vão querer ficar de fora do chamado “esforço de reconstrução”. Muito pelo contrário, dada a projeção internacional de monopólios brasileiros especialistas em construção civil e de infra-estrutura como a Odebrecht e a Camargo Correia, cujos donos são fortes aliados de Lula, é de se esperar que o Brasil busque o máximo possível na repartição deste botim. Nas palavras do ministro da defesa, Nelson Jobim: "É o momento de começarmos a pensar em mudar a natureza da missão da Minustah (...) O mandato da Minustah é de manutenção de paz, leia-se segurança, mas é preciso que a ONU perceba que sua missão não é mais só fornecer segurança, mas também a de construção da infra-estrutura". É neste marco que devemos analisar os conflitos que vêm se desenvolvendo entre Brasil e Estados Unidos em torno ao Haiti. Assim como na compra de armas da França, são expressões da política brasileira de buscar apoiar-se no declínio da hegemonia norte-americana e das contradições de interesse entre os distintos países imperialistas para aumentar sua margem de manobra, buscando consolidar-se como líder regional, ao mesmo tempo em que aprofunda sua dependência em relação ao capital financeiro internacional, o que tem garantido os limites de submissão a cada negociação. Num sentido mais “estratégico interno” já não são poucos aqueles que reconhecem na participação das tropas brasileiras no Haiti um “projeto” de treinar “batalhões especiais” para ocupar as favelas brasileiras (dada a semelhança com suas análogas haitianas) e reprimir explosões de revolta popular. Este “projeto” já teve suas primeiras conseqüências práticas na participação de ex-soldados da Minustah na repressão e na ocupação do Complexo do Alemão em fevereiro de 2008 e no morro da Providência em junho do mesmo ano. Ao contrário da demagogia de apresentar a Minustah e o governo Lula como “humanitários” e “salvadores”, haveria que se perguntar que, se o seu objetivo é ajudar o Haiti, por que não enviar médicos e engenheiros ao invés de soldados? Depois de cinco anos de ocupação da Minustah, dever-se-ia perguntar quê papel de “estabilização” é este cumprido pelas tropas brasileiras, no qual, durante todo este tempo, com investimentos de mais de 600 milhões de dólares anuais, nada mudou nas terríveis condições de saúde e de saneamento básico do povo haitiano, o que contribuiu para agravar enormemente a catástrofe. O papel das direções lulistas nas organizações operárias e populares. O governo Lula está tratando utilizar a catástrofe ocorrida no Haiti para tentar cobrir com uma mascara mais “humana” o verdadeiro papel de sua liderança à frente da Minustah. É o que temos visto no esforço de idealização dos soldados brasileiros mortos no terremoto, cujo governo, nas palavras de Lula, tenta converter em verdadeiros “heróis nacionais a serviço da paz e da solidariedade entre os povos”. Na reunião realizada dia 18/01 para tentar conformar uma “frente” das organizações operárias e populares em solidariedade ao Haiti, as direções lulistas da CUT, do MST, da igreja etc. mostraram que como sua política é servir de “ala esquerda” da política do governo federal, negando-se ligar a campanha de solidariedade a uma campanha de denúncia do imperialismo e do papel de Lula na ocupação deste país e a lutar pelo retorno das tropas brasileiras aí instaladas e negando-se a convocar um mínimo plano de mobilização popular. Se negaram a, minimamente, convocar um ato público de imediato, contentando-se em propor um ato para 22-23 de março. E em sua primeira declaração se contentam em defender a “retirada das tropas da ONU” em geral, como se a liderança do governo Lula nas mesmas fosse uma mera abstração. Recentemente foi divulgada pela internet uma declaração "Aos governos e organizações reunidos em Montreal", assinada por organizações operárias e populares brasileiras (Jubileu Sul, Comitê Pró-Haiti, Conlutas etc.), na qual se alimenta a ilusão pró-imperialista de "ajuda humanitária desinteressada". Na declaração, dizem: "É momento dos governos que compõem a Missão das Nações Unidas para Estabilização do Haiti (MINUSTAH), as Nações Unidas e especialmente Estados Unidos, França e Canadá que revejam grande parte das equivocadas políticas implementadas no Haiti". Ao invés de denunciar a história de opressão imperialista contra o povo haitiano e os interesses de classe que se escondem por trás de sua “ajuda humanitária”, criticam pretensos "equívocos", que supostamente seriam passíveis de ser "revistos". Mesmo defendendo a anulação da dívida e falando contra a "militarização" no Haiti, sequer chamam o “Fora as tropas imperialistas e da Minustah”. A recente Conferência realizada no Canadá mostrou como é impossível lutar por um Haiti “livre e soberano” sem lutar claramente pela retirada das tropas deste país. No documento que resultou de dita reunião os países ocupantes hipocritamente declaram: “Os haitianos são donos de seu futuro (...) Nós respeitamos a soberania haitiana”. Um chamado aos setores combativos e anti-governistas Frente à política das organizações operárias e populares atreladas por mil e um laços ao governo Lula, as organizações que se reivindicam anti-governistas e combativas têm um papel especial a cumprir. A Conlutas e a Anel precisam se colocar à cabeça de uma ampla e contundente campanha de mobilização, ligando indissoluvelmente a arrecadação de ajuda humanitária à denúncia do papel do imperialismo e do Brasil na ocupação do Haiti, exigindo a retirada imediata das tropas estadunidenses e da Minustah, exigindo o retorno imediato dos soldados brasileiros. Devemos colocar de pé uma campanha que agite um programa classista para responder ao sofrimento do povo haitiano. Fora já as tropas da Minustah! Fora ianques do Haiti e de toda América Latina! Que os lucros dos capitalistas sejam utilizados para enfrentar a catástrofe! Que as organizações operárias e populares controlem os recursos recebidos! Pelo cancelamento da dívida externa do Haiti! Esta campanha precisa ser levada tanto em nível nacional e internacional como em cada estrutura ou local de trabalho, estudo e moradia em que estão presentes os sindicatos, entidades estudantis e organizações populares que compõem a Conlutas e a Anel. Devemos impulsionar atos nas principais cidades do país, realizar paralisações em solidariedade, transformar as calouradas de recepção dos alunos na volta às aulas em um grande palco para esta campanha. A Conlutas e a Anel precisam fazer um chamado especial à Intersindical e à ala esquerda da UNE para integrar e fortalecer esta campanha. Para ser conseqüentes em colocar de pé uma campanha classista de solidariedade ao povo haitiano, a Conlutas precisa rever sua posição legitimar a política das direções governistas do movimento operário e popular, como o fez ao assinar em baixo da declaração dirigida à Conferência realizada no Canadá, que nem mesmo coloca a exigência da retirada das tropas de ocupação do Haiti. A Conlutas e a Anel precisam denunciar o serviço prestado pelas direções governistas a Lula ao cobrirem pela esquerda a política de mascarar a papel de liderança do Brasil na ocupação militar com um “rosto” humano; ao mesmo tempo em que precisam exigir que coloquem o peso que têm nas organizações operárias e populares a serviço de organizar ações concretas e urgentes de mobilização. A prova de que é possível colocar de pé uma ampla campanha classista de solidariedade ao povo haitiano é o fato de que uma organização pequena como a LER-QI, com a pouca força de mobilização que temos, após termos sido derrotados na luta política que demos na reunião das organizações operárias e populares realizada no dia 18/01, realizamos um ato com mais de 100 pessoas na Avenida Paulista no dia 21/ 01, que teve significativa repercussão e contou com importante simpatia da população que assistiu ao ato. Neste sentido, continuamos colocando nossas forças a serviço de que se levante uma forte campanha independente em defesa do povo explorado e oprimido do Haiti.